terça-feira, 13 de março de 2012

American Beauty (1999) - 10

Tem um enredo brilhante. É a crónica duma morte anunciada. O morto e os restantes personagens são dum típico bairro norte-americano. Personagens cujas pulsões libidinosas reprimidas lhes confere uma psicose digna do que é, para mim, o paradigma duma família "normal" numa sociedade capitalista. Gente de onde o tempo livre não abunda, a futilidade do ter ocupa quase por inteiro os objectivos de vida, e se vive acompanhadamente sós interagindo por ataques passivo-agressivos com quem mais gostam... alias, se habituaram a viver. Que reste a aparência do sucesso, ao menos.

O velho masoquista que se apaixona por uma menor recuperando a pica ao seu cadáver, ao ponto de se motivar e libertar dos sádicos que cativou, incluindo a frígida mulher e à vidinha casa-trabalho-casa, rejuvenesce entre as pétalas. Com ele, quase todos os personagens entram num processo incrível de catarse, que entre o ridículo e a activação de endorfinas pelo rei do imobiliário, tem o seu momento mais alto da resolução da tensão reprimida no florescer libertador duma poça de sangue.

Se não viste o filme, então não percebeste quase nada do que escrevi. Se viste, então é diferente, mas também não terás compreendido muito, imagino. Eu que o vi, e isto escrevi, também não percebo muito bem, mas menos ainda percebo quem não gostou do filme. Devem ser pessoas com saúde metal demasiado saudáveis para estarem vivas. Precisam talvez de se apaixonar por uma loira que faça chover pétalas. Vejam o filme, pois a Beleza está nestas pequenas coisas.

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