sábado, 29 de dezembro de 2012

Detachment (2011) - 9

Um dos melhores filmes que vi este ano. Filme simples sem histrionismos artísticos e aparentemente só mais um filme. Mas não é só mais um filme. A história não é original nem propriamente imprevisível, mas subtilmente toca em muitas e importantes áreas do que é ser-se humano.

O sistema de ensino público, decadente, no pior que os EUA apresentam, é o palco desta passagem sem grande sentido de vida de algumas esquecidas personagens pelo mundo. A desesperança e indiferença é quase omnipresente, tal como, sem qualquer ironia, uma insustentada esperança também o é, e é-o indispensável às mais pequenas acções do dia-a-dia, em que os personagens, mergulhados numa profunda alienação, participam numa luta individual pelo não corromper das suas almas numa sociedade de almas corrompidas. Não estou a fazer um jogo de palavras contraditórias, estou a caracterizar a confusão e interacção de pensamentos e acontecimentos opostos que ocorrem no filme. É uma luta pessoal, de cada personagem, pela sobrevivência e consciência - com auto-conhecimento -, e a capacidade de se emanciparem a partir de estímulos literários e afectivos provenientes de uma improvável escola pública, que embora decadente, permite, quase como fruto do acaso, a evolução pessoal de um conjunto de jovens cuja autonomia como seres pensantes ficar-se-ia, pelas condições do seu meio, remetidas ao conformismo, presos para sempre nas suas cabeças, estrebuchando através de uma rebeldia contra o vácuo, mas felizmente, libertam-se...

Henry Barthes - o professor de Inglês -, magnificamente interpretado por Adrien Brody, faz da disciplina que lecciona, da Língua, uma ferramenta de emancipação e de (auto)-consciencialização para os alunos, exactamente o contrário que vivi com todos os meus "professores" de Português. Mas, estes alunos do Sr. Barthes libertam-se mesmo? Surge-me essa dúvida com a leitura de Poe no final que...

DURING the whole of a dull, dark, and soundless day in the autumn of the year, when the clouds hung oppressively low in the heavens, had been passing alone, on horseback, through a singularly dreary tract of country; and at length found myself, as the shades of the evening drew on, within view of the melancholy House of Usher. I know not how it was -- but, with the first glimpse of the building, a sense of insufferable gloom pervaded my spirit. (...) I looked upon simple landscape of the domain --upon the bleak walls -- (...) and upon a few white trunks of decayed trees --with an utter depression of soul (...). There was an iciness, a sinking, a sickening of the heart...

1 comentário:

Rui Silva disse...

Já o tenho. Agora é arranjar um bocado para o ver.