segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Isto é o/um fim

Isto é o/um fim. Este post posso dizer que perfaz uma trilogia com os anteriores «Da Peste à Centelha» e «Com que intuito criaste o Três Parágrafos?». Como o blog ganhou naturalmente conteúdo temático além do primeiro intuito com que foi gerado - assunto aflorado no post anterior - e ficou agora reduzido principalmente a conteúdos políticos, de cinema e livros, entre outros, mas de momento não existe motivação para tais escritos.

Este blog foi muitas vezes também extensão da minha participação em redes sociais como o Twitter e o facebook. Ele complementava a minha acção com essas redes. Acontece que, acrescido à falta de motivação pela sua actualização, irei por tempo indeterminado desactivar a minha conta do facebook.

Um fim não implica que não haja mais nada depois, sendo somente uma transição para algo diferente. O mais espectável é que o meu regresso à escrita nos conteúdos coerentes com o Três Parágrafos volte a acontecer, restando saber se escreverei com frequência aqui ou noutro que então criarei. Este fim não me impede também de esporadicamente publicar algo.

Podem-me ir seguindo por aqui:
- Leitura Capital, blog sobre as leituras feitas a livros de filosofia e não só;
- Da Peste à Centelha, cuja apresentação foi feita nesta trilogia de posts.

Obrigado a todos que por aqui passaram.

Começaste o Três Parágrafos com que intuito?

A 21 de Dezembro de 2011 criei este blog e escrevi na altura:
Não sei o porquê deste blogue. Imagino que isso seja algo só possível de responder no campo da Psicanálise, portanto azar o meu. Mas se Tom Waits canta que the night does funny things inside a man, neste caso o tédio fez o mesmo e está criado o Três Parágrafos.
Os motivos de tal criação naquela noite foram mais tarde aflorados num ou outro post, mas nunca como há dias me saiu a resposta de forma tão incisiva. Perguntaram-me a altas horas da noite "começaste o Três Parágrafos com que intuito?". Respondi com a sinceridade que muitas vezes só o sono permite que o criará num "impulso madrugador de quem se está a decidir entre o suicídio a curto/médio prazo ou não".

O prazer de escrever e o pleno exercício desse acto foi-me proporcionando as respostas. Tal está sintetizado melhor que em qualquer ponto do blog na série "Sometimes there's so much beauty in the world...", cujo título foi retirado do filme American Beauty. Não percebi ainda se está ou não no momento de descontinuar este blog.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Nelson Mandela sobre Cuba

“Os cubanos vieram a nossa região como doutores, professores, soldados, especialistas agrícolas, mas nunca como colonizadores. Compartilharam as mesmas trincheiras de luta contra o colonialismo, o subdesenvolvimento e o Apartheid... Jamais esqueceremos esse incomparável exemplo de desinteressado internacionalismo”

Nelson Mandela

domingo, 15 de dezembro de 2013

Da Peste à Centelha

Não tenho publicado com a frequência que desejaria. Há uma certa falta de motivação para o fazer. Não vou revelar o motivo, não é importante dizê-lo, apenas interessa notar que, curiosamente, a principal razão para a falta de motivação é a mesma que me impulsionou para a criação do blog. Portanto, o que me sempre tirou energia para escrever e publicar mais é o mesmo que me faz escrever, salvo excepções, naturalmente. É uma contradição, eu sei.
 
É este conflito, que ora me leva a publicar ou não, que cuja síntese resulta na série do blog dedicado à Beleza - "Sometimes there's so much beauty in the world..." - onde recolhi preciosos objectos que contemplei de maneira especial e me ajudou a concluir de que apesar de tudo vale a pena. Refiro-me a quê? Não vou revelar, não é importante dizê-lo, apenas interessa notar que um morto não contempla tais coisas.

Com um amigo criei recentemente um novo blog. Chama-se Da Peste à Centelha. É lá que surgirá as divagações e delírios mentais que passarei a texto sobre tudo o que possa relacionar-se com o absurdo da vida e o seu sentido e... Na verdade, não sabemos ao certo qual o tema central do blog, contudo, a Peste é referência a Camus e a Centelha é a Outubro. Considerem-se convidados a visitarem e a participarem. Aqui:

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Preparam-se mais umas rendas agora através dos CTT?

Surpreendidos? Mas já não conheciam os outros milhentos casos de rendas que o público oferece aos grandes privados?

Sem consciência da existência da Luta de Classes [sociais] é muito difícil compreender a sociedade. Sem consciência de classe [social] é complicado saber o que fazer e agir assertivamente.

Mas numa frase é mais ou menos isto:
O governo é a entidade pela qual a classe predominante coloca todo o Estado a funcionar em sua prol.

Se eu estou errado, avisa-me, comenta abaixo.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Apaixonado [conto]


Tenho uma perna maior que a outra. Ou o chão é inclinado. Não sei. O tamanho da perna sei que não será exactamente igual à outra, mas será isso que me desequilibra para um lado? Talvez a ligeira vertigem lateral se deva a isso. No entanto estou de tronco inclinado para a frente, observo o chão de cima, olho os meus pés, e um estará mais abaixo e outro mais acima. O pé abaixo está mais abaixo em relação ao mais acima, o de cima está mais acima do que o que está mais abaixo. Assim parece. Excepto se for o chão que se inclina e, em vez de um desalinho, há antes um alinhar de alturas em relação a um referencial que não vislumbro. Isto de precisar de uma referência comparativa é limitador a uma análise. Em referência contra o chão escolheria um objecto recto, e contra os pés escolheria algo não recto. Talvez um pato, sem bico. Mas estará o chão torto? Terei os pés em bico? Ou será antes inclinado o referencial que nem vislumbrei ainda? Certo é que algo não está direito. E daí, não sei. Saberá alguém se é do chão, dos pés, das pernas, ou de outra existência mais? Será da coluna? Não sei se a tenho devidamente alinhada! Na minha idade, penso que não a terei. Mas estará a coluna dessa outra pessoa direita? Qualquer das causas pode ser a explicação para o desalinho vertiginoso enquanto olho o chão. Sinto. Um pé maior que o outro não desalinharia o chão. Qual seria a causa? Teria um deles podido desenvolver-se mais por desalinho do sapateiro tal como certos peixes que crescem proporcionalmente ao tamanho do aquário? É certo que não sei. E daí, talvez nem isso seja garantido. Ponho fora de possibilidade eu ter ao fundo das pernas dois peixes. Entenda-se: um ao fundo de cada perna. Não, eu não posso ter dois peixes em vez de pés, isso é certo, senão, à noite não conseguiria dormir. O cheiro a peixe enjoa-me. Virá daí a náusea que me revira o balanço? Olho o chão, olho melhor, e nada concluo. Danço! Não, estou parado. Incerto se danço ou se permaneço de pernas e tronco hirtos perfazendo um ângulo de noventa graus. Talvez sejam duzentos e setenta os graus. Não estou certo. Que terá entortado a coluna? A mochila da escola? Era pesada. Se calhar nem era. Mudava periodicamente de ombro para as torções na espinha se equilibrarem ao final do ano lectivo. Mas não estou certo de ter distribuído justamente o peso. E agora que o sinto, lembro que tenho um testículo maior que o outro. É o direito. A mochila terá sido repartida pelos ombros tendo em conta a relação entre testículos? Não, não foi. Nem me lembro se foi. E agora não sei qual dos testículos é o maior. É o esquerdo. Não sei. Confirmaria com a devida apalpação, mas desequilibrar-me-ia. Não é que eu saiba onde tenho as mãos, mas sei que me revelaria ao chão. Ao menos se rebolasse ficaria a saber que ele é inclinado. Mas, pensando bem, nada mais tomaria conhecimento quanto aos meus pés, pernas, coluna, ou, já não me lembro das outras possíveis variáveis às vertigens. Lembrei! Lembrei! Era os pés, as pernas e a coluna. Lembrei! Contudo, estou certo que ando esquecido. Caro leitor, ajude-me, qual era o ponto de partida de tudo isto? Não se lembra?! Recordo-lhe então que foi, salvo erro, eu não conseguir dormir com peixes nos pés. Se é que não sonhei com isto. Não sei. De erros ninguém está a salvo. Certo é que tenho um testículo maior que o outro em relação a um referencial que não vislumbro. Mas com o chão inclinado como está, nada conseguirei vislumbrar. Um pé maior que uma sapateira, acho que falei em sapateira. Ou terá sido antes em sapateiro? Com isto tudo perdi-me da minha namorada. Tenho namorada? Será aquela ali? É ela! Não sei. Se calhar preciso dela como de uma bengala. Não tenho pernas, penso. Isso explica muita coisa. Onde está a minha namorada quando preciso dela? Preciso, se ela for direita. Se for torta não será um bom referencial. Ou então não o é se for direita. É importante um referencial para o próprio referencial. Ou bastará fixar um qualquer? Acho que tenho um pé maior que o outro. E daí, não sei. Mas preciso dela, da minha namorada. Se é que tenho uma. Quero-a, mesmo que não tenha nenhuma. Preciso dela. Serei viúvo? Se calhar a viúva é ela. Mas preciso da minha enamorada. Usá-la-ei como calço.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Reunião de Amigos

A minha agenda de contactos.
Há dias pensei reunir um conjunto pequeno de amigos mais chegados. O objectivo era chamarmo-nos nomes feios. Peguei na agenda e listei pouco mais de dez nomes. Mas cancelei a ideia de os reunir perante uma certa desolação quanto ao que me deparei.

Ontem assistia a uma entrevista a Carlos do Carmo quando ele deu uma imagem que serve, de certa forma, como analogia para essa a minha desolação; sendo certo que a distância entre o meu caso e o dele é grande, talvez ao equivalente de mais de 40 anos de idade que nos difere. No final da entrevista ele disse, sobre os amigos, algo como isto: "Sabe, eu olho para a minha agenda e o que vejo é um cemitério. A minha agenda é um cemitério!".

Nenhum dos amigos que listei está literalmente morto, mas vários estavam impedidos de comparecer numa reunião por motivos graves - relacionados indirectamente com a precarização das condições de vida. Um dos motivos é a emigração. Para desanuviar passarei a dizer que a minha agenda é uma agência de viagens.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Carta Aberta a Um Jovem, de André Maurous

Leio «Carta Aberta a Um Jovem» de André Maurois, livro que me custou um euro, e ainda bem que não dei mais por ele. É que não sei se vale mais que isso ou se sou um grande forreta.

Fora de brincadeiras: o livro tem temáticas interessantes, André escreve para um jovem que pressupõe ter cerca de 20 anos, oferece conselhos e dá os seus pontos de vista sobre uma vasta quantidade de temas. Mas, o autor tem um pecado capital: ele é profundamente idealista. 
Temos os meios físicos bastantes para destruir a civilização e a espécie; não temos os meios morais suficientes para para nos opormos a essa destruição. 
Toda a concepção do mundo e de como devemos proceder é por parte de André Maurois construído a partir da moral, ou, por outras palavras, se o mundo está mal é por causa da falta de elevação ética e moral dos políticos e restantes cidadãos. Referências nesse sentido são constantes, mas para este post apenas trouxe duas.
A verdade é que são sobretudo as palavras - e os orgulhos exacerbados - que nos dividem. «Os interesses transigem sempre, as paixões nunca».
Esta última citação sintetiza e deixa a nú o cariz idealista do autor. Tudo é (sobretudo) consequência do espírito humano fraco. Raramente algo é explicado pelo escritor como resultado das condições existentes no meio que descreve. Ele nunca explica as causas do desemprego, por exemplo, limita-se a apelos de que é um mal que deve ser combatido e lamenta-se, igualmente, que a «a civilização da opulência» não resolveu o problema da pobreza, nem sequer nos países desenvolvidos.

Estranho que André Maurois desconheça as causas do desemprego e da pobreza, mas parece que realmente as desconhece, restando-lhe lamentar tamanhos males sociais e pretender passar o valor da luta pela suas resoluções aos jovens que o lêem. O curioso é que tal ignorância ocorre no meio de uma constante verborreia de citações dos grandes escritores e pensadores da História. Como é possível ser-se um intelectual - eleito para a Academia Francesa, inclusive - e ainda assim ter uma concepção do mundo tão superficial? Não quero acreditar que o motivo estivesse em alguma complacência perante o jovem anónimo a que se dirige na carta, ou padecesse de algum tipo de senilidade, selectiva ou não, que o impedisse escrever sobre o mundo de uma forma (quase) materialista. Não vejo que possa ser desculpa o facto de o livro ser do final da década de 60 e o autor ter na altura 80 anos, isso são factores que deviam ajuda-lo a interpretar a sociedade de forma menos ingénua.

Digo eu que não basta ser-se de bom carácter, de moral e ética bem-intencionada, bom cristão, enfim, chame-lhes o leitor o que quiser, para se conseguir construir um mundo mais justo e asseado. É preciso compreender o mundo nas suas leis, o seu movimento e causas, à raiz, para então ser possível transforma-lo.

O livro peca desde o início por mistificar as causas de grandes males da sociedade. Partilha os mesmos pecados que um livrinho que li há tempos chamado «Indignai-vos» de Stéphane Hessel - ainda escreverei sobre ele -, contudo este último sempre divulgava um conjunto importante de injustiças. Carta Aberta a Um Jovem tem ainda uma vasta quantidade de assuntos interessantemente desenvolvidos pelo autor, e tem sido apesar de tudo uma leitura agradável.

domingo, 27 de outubro de 2013

Se tiver mais de três acordes, é Jazz.

Admiro-o dos Velvet Undergound. A frase que tenho no sub-título do blog é uma citação corrompida dele. "Se tiver mais de três acordes, é Jazz". Hoje Lou Reed voltou à tónica, a casa.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Distribuição da Riqueza Produzida

Capa DN 16-10-2013
Deixo aqui apenas dois pontos dignos de registo para esta rubrica do blog

1 - Esta capa publicada ontem no DN com referencia à distribuição da "austeridade" para o Orçamento de Estado que se anunciou: 82% são cortes na função pública, reformados, Educação e Saúde; e 4% para a banca, petrolíferas e redes de energia.

2 - E esta citação que roubo a este excelente artigo de Miguel Tiago sobre um país "imaginário":

Imagina um país onde mais de 60% da riqueza produzida num ano é distribuída como rendimento de capital e menos de 40% é distribuída como rendimento de trabalho. Imagina um país em que a receita fiscal sobre rendimentos incide em 73% sobre os rendimentos do trabalho e 27% sobre os de capital.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Xadrez, CGTP e Experiência.

Houve uma fase da minha vida que quase todas as noites jogava xadrez. Teria eu uns 13 anos e jogava com gente muito mais velha e experiente. Muito aprendi no que directamente e indirectamente se relacionava com o jogo, por exemplo, que estava primeiro a defesa e só depois o ataque. É certo que ambos estão dialecticamente interligados, no futebol costuma até dizer-se que a melhor defesa é o ataque, contudo, a experiência no xadrez fez-me compreender as seguintes palavras:
«Desde tempos antigos, 
O Guerreiro experiente
Primeiro garante 

A sua própria 
Invulnerabilidade; 
Depois espera pela
Vulnerabilidade

do inimigo».
Claro que era muito miúdo e nunca tinha sequer ouvido falar de Sun Tzu, menos ainda seria capaz de intelectualizar por palavras o que o jogo me ensinara, mas a experiência ensinou-me este saber que guardo e vos falo.

Quando soube que a CGTP cancelou a marcha a pé pela Ponte 25 de Abril, não queria acreditar que teriam cedido às ameaças do governo. Afinal, ele não podia proibir a manifestação, visto que o governo não está acima da Lei. Mas este texto ajudou-me a clarificar as ideias sobre o assunto, que era algo que andava a pensar há já uns dias quanto a esta marcha na ponte, e, foi assim, que recordei este saber que aprendi há muitos anos atrás, e antes, há muitos séculos atrás Sun Tzu disse-o.

Seja o que cada um de nós pense sobre a posição da Intersindical a verdade é que, tal como escrevi no post anterior, no dia 19, sábado, é muito importante agirmos ao participarmos na manifestação.

sábado, 12 de outubro de 2013

Empreendedorismo de novo tipo: Pró-Actividade e Organização.

Organogramas Funcionais
São dois pontos comuns na linguagem dominante que anda à volta do chamado empreendedorismo: acção e organização. Se é preciso agir, não ficar parado à espera, ser pró-activo, etc e tal, é repetido à exaustão, também a organização é um factor importante, tanto individualmente, por exemplo, na gestão do tempo, como numa equipa.

Curiosamente, é muito comum que os mesmos que reconhecem a importância da acção e da organização, quando o assunto é política e acção de massas, eles já não têm uma postura de pró-actividade, antes pelo contrário, são conformistas e inactivos, e, frequentemente, optam também por depreciarem a necessidade das massas terem de se organizar politicamente para verem os seus objectivos alcançados.

Agir organizadamente é uma necessidade, e é tanto maior quanto for a grandeza e complexidade da obra a construir. Não há argumentos que refutem isto, a prática confirma-nos diariamente. No dia 19, sábado, é muito importante agirmos ao participar na marcha da organização dos trabalhadores com o nome CGTP. Objectivo: aproveitar o know-how da intersindical para empreender um futuro melhor.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Maior produtividade, igual a menos tempo de trabalho e mais emprego?

 Este gráfico desencadeou dois comentários que registo mais abaixo:
Ver artigo aqui
Ora, a análise de um amigo a estes resultados é curiosa, apesar de ser o pensamento dominante, sobretudo nos média. Ele sucintamente diz que: 

"Maior produtividade" ⇒ "melhor economia" ⇒ "menos desemprego" ⇒ "mais direitos para os trabalhadores" ⇒ "menos horas de trabalho".

Gostava de entrar em diálogo com ele para aprofundar o seu raciocínio e ser antitese à sua tese.

Penso que este meu amigo não está a ver bem a coisa, e temo que ela seja antes assim:

Se há condições sociais e tecnicas para se produzir algo por menos horas de trabalho, então há condições para todos trabalharmos menos tempo e termos mais tempo livre. Mas é isso que acontece na realidade? Não. Devido às relações sociais existentes, em que os possidentes do capital detêm mais poder do que os trabalhadores, esse tempo livre é transformado em desemprego. Não o fazem por maldade, mas por interesse: os capitalistas têm a necessidade de baixar salários para contrariar a tendência para zero das taxas de lucro. [1]

O desemprego, por sua vez, força os salários a baixar. Como o faz? A força de trabalho é uma mercadoria, e sendo certo que é especial por ter como invólucro seres humanos, não há "boa moral" que detenha a lei da procura e da oferta. Quanto mais a oferta de força de trabalho excede a procura, maior é a tendência para o seu preço baixar.

Surge uma contradição: ao mesmo tempo que baixam salários, os capitalistas precisam que os trabalhadores tenham poder de compra. Ora, só à luz da dialéctica isso é fácil de se compreender, trata-se de uma das contradições centrais do sistema social em que vivemos: o capitalismo. [2]

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Saias Lápis, a nova tendência de Inverno?

Na SIC estiveram há pouco a falar durante mais de 30 minutos sobre as "tendências deste Inverno". Não mostraram o que as pessoas andam nestes primeiros dias de chuva e frio a vestir-se, nem compararam as escolhas das indumentárias relativamente a outros anos, isso sim, teria interesse e seria merecedor de estudo e tempo de antena, mas, ao invés disso, o contrário se passou, e trataram de nos explicar e sugerir a roupa que devemos escolher de acordo com o que está já previamente estabelecido (por quem?!) para a "nova" estação. Há sempre uma nova "tendência"!!

O conformismo ou a real necessidade de renovar o guarda-fatos fará o resto. Ciclos de moda surgem periodicamente, e não surgem ao ritmo das necessidades das pessoas, mas da indústria. A mudança na forma de vestir é algo induzido pelas revistas, televisões e, inclusivamente, por restrições na oferta por parte das grandes lojas de roupa. Tirando um professor meu que usa a mesma roupa desde a década de oitenta, dificilmente escapamos a esses ciclos no estilo que vestimos.

"Saias lápis vão ser uma tendência fortíssima este Inverno" disse a TV. Resta repetir mais vezes. Se assim for, então, as saias lápis serão um elemento constituinte da ideológica predominante neste Inverno. Afinal, a forma de vestir é também uma causa e um reflexo da nossa maneira de pensar.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

A minha Aplicação para Android das Quintas-feiras.

O deslumbramento por brinquedos tecnológicos alheada a uma mentalidade consumista (mal controlada) de possuir algo, de que não se necessita verdadeiramente, fez com que houvesse um telemóvel a mais. Ofereceram-me então o que sobrou e ganhei um smartphone. Pensei Porreiro, pá! Finalmente poderei ser feliz!

Epicuro explorou as ilusões sobre as verdadeiras necessidades para a felicidade. Comigo, contudo, dei agora na prática, mais uma vez, razão a Marx quanto à evolução das necessidades. Por exemplo, hoje em dia é uma necessidade ter um frigorífico e não mais um luxo; as necessidades evoluem dependendo das condições da época e restante contexto em que a pessoa está inserida. Ora, para mim, ganhei uma nova necessidade (que não tinha), que é ter todas as quintas-feiras esta aplicação para Android no meu "novo" smartphone por perto:

(clicar na imagem para ver a aplicação no Google Play)

O programa está excelente. Leve. Muito bem organizado e simples de usar. Vale 5 estrelas, mas peca ainda, e apenas, por não se poder mudar o tamanho da letra e faltar acrescentar um método que facilite a busca de edições anteriores. Funções que espero que numa próxima versão seja adicionado. Vale a pena, experimentem, pois mostra realidades que os outros jornais escondem. Penso Agora sim, já poderão ser felizes!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Pela Estrada Fora com Dexter Gordon e Wardell Gray



Primeiro trecho onde surge referência a esta música e álbum no livro de Jack Kerouac:
Dean conduzira quase a cento e cinquenta à hora; agora era obrigado a não ultrpassar os centro e dez, caso contrário o veículo inteiro iria voar silvando pla encosta abaixo. Atravessaram as imponentes Smoky Mountains em pleno Inverno. Quando chegaram à porta de casa do meu irmão, há trinta horas que não comiam nada, tirando umas goluseimas e bolachas de queijo.

Comeram vorazmente enquanto Dean de pé, de sanduíche na mão, se inclinava e saltava em frente do grande fonógrafo a escutar um disco de bop arrebatador, que eu acabara de comprar, chamado The Hunter, com Dexter Gordon e Wardell Gray a tocar com toda a garra perante um público estridente que dava uma sonoridade frenética bestial à gravação. Os parentes do Sul entreolhavam-se e abanavam as cabeças de espanto.

- Que tipo de amigos é que o Sal tem? - perguntaram eles ao meu irmão.

Ele ficou sem saber o que responder. As pessoas do Sul não gostam nem um bocadinho de devarios, pelo menos do tipo de Dean dava mostras. Ele ignorou-os por completo. A loucura de Dean tinha desabrochado numa estranha flor. Só me apercebi disto quando eu, a Marylou e o Dunkel saímos de casa para dar uma breve volta no Hudson, na altura em que ficámos sós pela primeira vez e pudemos conversar sobre tudo o que nos apetecia. Dean agarrou no volante, engrenou a segunda, reflectiu um instante, em andamento, subitamente pareceu ter tomado uma decisão qualquer e meteu prego a fundo com impetuosa determinação, lançando-se pela estrada fora.
Se a saúde deixar, espero voltar a manter o blog actualizado... e talvez recupere a intuição do tempo. Se alguém tiver este álbum, o The Hunt, que diga coisas: eu quero-o. Fiquem com mais uma faixa, Até breve.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cabe a cada um de nós escolher de que lado está


Quem, apesar de tudo o que se passa, ainda não percebeu, ou não quer perceber, que a nossa sociedade distingue-se das anteriores por se dividir em duas classes sociais em confronto por satisfazer as suas antagónicas necessidades, terá dificuldade em perceber o que significa este "nós" e "eles" na citação acima.

Nós necessitamos de saúde, educação, trabalho e habitação. Eles necessitam da propriedade privada (dos meios de produção) para gerar o ainda «deus todo poderoso» lucro. Note que só alienando a possibilidade de acesso a estes direitos humanos no Serviço Nacional de Saúde é que se abre lugar à sua comercialização e negócio dos privados.

É a luta de classes: pode nem sempre parecer mas ela está sempre a ocorrer.

Tudo é de alguma forma consequência desta relação de forças entre Nós e Eles, e naturalmente, o parlamento é um reflexo disso. Não nos basta ter a razão, é preciso ter os meios para a difundir, mas os média dos grandes grupos económicos são esmagadoramente predominantes. A mentira e a sua massificação é a via deles para manter o status quo e respectiva distribuição parlamentar. [vídeo 1 e 2]

Cabe a cada um de nós saber a sua posição na sociedade e escolher de que lado está. Não há aqui lugar à neutralidade.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Do Communists Have Better Sex?

Neste documentário explora-se as diferenças entre a sexualidade na Alemanha Oriental (RDA) e Ocidental (RFA). Quando conto não acreditam... o preconceito é tão grande que...

É surrealmente superior a emancipação feminina, individual, na sociedade e dentro da família na RDA, mesmo há 50 anos atrás, quando comparada com o nosso Portugal em pleno século XXI. No fundo aquilo que eles já tinham é aquilo que buscamos em relação à educação, aos afectos e a forma das pessoas se relacionarem, a primazia do amor sobre as instituições (ex: casamento), etc etc.

O à-vontade das declarações de algumas mulheres em relação ao sexo e às suas relações conjugais são praticamente impensáveis de ver nas nossas TVs. Quintino Aires nas manhãs da TVI só no meio de risinhos é que lhe é permitido falar de certos assuntos, porque é psicólogo, e não uma dona de casa.

Implícito neste vídeo pode estar também uma reflexão sobre a Liberdade. Nos anos 80 havia referências na imprensa de que na Polónia não havia sequer um McDonalds, como se isso fosse um facto necessariamente negativo, tal como na RDA a pornografia não era permitida. Mas afinal era na RDA ou na RFA que havia maior liberdade (sexual)? A verdade é que Liberdade está intimamente relacionado com a satisfação das necessidades humanas, e não necessariamente com a quantidade de escolhas de consumo (como a comida de merda ou pornografia). As necessidades por satisfazer continuam ainda nos afectos, no sexo, na falta de tempo livre para cultivar os mais variados tipos de relacionamentos...

O preconceito é tanto em relação aos comunistas que ver algumas das imagens deste filme deixa a nu (literalmente) que algo não anda a ser bem contado e... enfim, resumindo: se gostas de foder e/ou de fazer o amor vê este documentário.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Salt of the Earth (1953)

Escreveu o António Santos no kontra korrente assim sobre o filme:
“Como posso começar a minha história que não tem começo? O meu nome é Esperanza, Esperanza Quintero. Sou a mulher de um mineiro. Esta é a nossa casa. A casa não é nossa. Mas as flores… as flores são nossas. Esta é a minha aldeia. Quando eu era uma criança, chamava-se São Marcos. Os “anglos” mudaram o nome para Zinc Town. Zinc Town, Novo México. As nossas raízes neste lugar são profundas. Mais profundas que os pinheiros, mais profundas que a mina”. Assim começa O Sal da Terra, que esteve banido nos Estados Unidos até aos anos 60. Todos os envolvidos na sua produção foram adicionados à infame lista negra do cinema norte-americano; a protagonista foi deportada para o México e o argumentista passou mais de um ano na prisão. Porquê? Porque este filme é perigoso por ser simultaneamente tão belo e tão corajoso. A luta dos mineiros norte-americanos vista de uma perspectiva de classe em que as mulheres e os imigrantes são líderes e iguais.
O filme está agora em domínio público e pode ser visto na integra aqui:

domingo, 7 de julho de 2013

Novecento (1976)

Novecento (ou 1900) é um grande filme. Grande, em todos os sentidos. É constituído por 5 horas (dividido em duas partes) que são uma verdadeira lição.

Quanto hoje em Portugal temos - nunca como agora foi tão claro - um governo composto por fascistas, quando hoje a fascização do regime se desenvolve a olhos vistos para garantir as taxas de exploração em prol da alta finança - e muitos sem ainda darem por isso -, este filme é uma ferramenta de estudo de visionamento obrigatório.

Um filme que ajuda a perceber o passado, a situar-nos no presente e a prever e lutar pelo nosso futuro colectivo.



Escreveu António Santos no kontra korrente assim:
1900 é inigualável. Os campos da Emília-Romanha são a tela para a metáfora acabada do que foi o século XX, onde dois rapazes e duas classes sociais crescem e aprendem, separados por interesses inconciliáveis. Cada fotografia deste filme é um quadro repleto de beleza; todas as actuações, de Gérard Depardieu a Robert de Niro, são brilhantes; a música, de Ennio Morricone, é sublime. 1900 fala sobre a génese do fascismo, a vida dos que trabalham e a luta pelo socialismo na linguagem comum de toda a humanidade: o amor, o ódio, a compaixão e a solidariedade.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Goebbels ao pé disto é um amador


As últimas 48 horas ajudam a pôr a nu o papel dos comentadores fixos das TVs.

Os comentaristas são sempre os mesmos. Aparentam conhecer conhecimentos e serem especialistas em tudo e, em particular, do geral. São pagos para encher chouriços. A superficialidade ou a mesquinhez da "pequena política" imperam.

Mas também têm como função restringir o espectro de discussão de acordo com os interesses de quem lhes paga e, simultâneamente, promovem dentro desse espectro a discussão criando uma ilusão de liberdade política. No conjunto formam uma névoa que nos dificulta a todos a análise dos factos e do mundo.

Por vezes, nesta névoa dos fazedores de opinião, damos por nós a tomar por sérias e cruciais questões que são completamente acessórias, e até a esquecer acontecimentos, esses sim fundamentais, que ocorreram no próprio dia.

Esta quadrilha comentaristas do regime fazem de Goebbels um amador. Ele dizia que “De tanto se repetir uma mentira, ela acaba se transformando em verdade”. Hoje a manipulação está mais refinada, mas continua com o rabo de fora.

Quem se confia exclusivamente aos média dos grandes grupos económicos dificilmente consegue sair fora do rebanho. Pode até ver que a manipulação tem o rabo de fora, mas sem estímulos alternativos fora do tal espectro de discussão é impossível ao carneiro sequer reconhecer-se como parte da carneirada.

Não se deixem enganar por estes servis comentaristas fixos.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Os montantes das "ajudas" é igual ao que sai em lucros, dividendos e juros...

"Nunca lá iremos sem duas coisas: exportações e também mercado interno"...

Carlos Carvalhas, neste vídeo, desmistifica que seja uma boa notícia um suposto equilíbrio da balança comercial sem mudanças estruturais. Sem reindustrialização não vamos lá. E como continuamos a privatizar empresas...

Os montantes em "ajudas" que vêm da UE é já praticamente igual aos valores que saem em lucros, dividendos e juros.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Nothing Lasts Forever

É curiosa a resistência que se tem à admissão do fim. Que surpreendentes crenças construímos nós para nos iludirmos com a eternidade! Talvez esteja indirectamente relacionado com o medo da morte, ou não, mas somente apego ou inércia à mudança... O curioso está no facto de que se tudo tem um fim por que custa tanto admitir isso?

Vídeo ao clicar na imagem

domingo, 9 de junho de 2013

Esconderam as vergonhas atrás da moita

Dei há momentos com o blog Imagens de Campanha e, sem explora-lo exaustivamente, ficou-me claro que toda a análise dos outdoors feita pelos autores é na perspectiva de quem vende um produto, centrando-se como chegam até ao "consumidor" e se angariará "clientes". A preocupação por outdoors com substância política é profundamente desvalorizada. Este post sobre os outdoors da campanha de Moita Flores à câmara de Oeiras é exemplo de uma dessas análises, embora haja um comentário irónico em tom de auto-crítica por parte do autor. 


Neste caso, o autor do post nem repara num pormenor importante: os outdoors não têm o símbolo do PSD. Têm vergonha? Sabem que tal colagem simbólica a um dos partidos do governo, que traiu e trai os portugueses, não é eleitoralmente positivo na perspectiva de quem vende votos?

Uma amiga minha, psicanalista, dizia que o símbolo do PSD tinha uma forma fálica e que inconscientemente isso provocaria algo nas pessoas. Em Oeiras o PSD preferiu capar-se do que mostrar o seu símbolo flácido. Em tempo de "austeridade" e de "sacrifícios" é preciso mais contenção nos gastos das campanhas, dizem eles, embora a vila esteja já cheia destes dispendiosos outdoors. Poupam apenas no Viagra. As Catarinas estão sem pirulitos.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Sabes que o que escreves no facebook fica guardado, pá?"

 "Sabes que o que escreves no facebook fica guardado, pá?" - perguntou-me. Na minha ingenuidade, pensei que o rapaz me alertava para o facto de toda a informação que disponibilizo, inclusive o que escrevo e partilho, ficarem guardadas e no futuro poderem ser usadas contra mim. Sim, por que embora em Portugal ser neste momento pouco provável vir a ser alvo de terrorismo de estado por motivos políticos, nunca se sabe o que o futuro nos reserva. Aquele que antevejo não é coisa boa.

Mas, afinal, o que animava o autor da pergunta não era uma preocupação para comigo no futuro, mas a revelação indirecta de que gostaria de um dia ver-me a dizer o contrário do que defendo hoje e a precisar de dar o dito por não dito. Como se alguma vez me pusesse a dar o dito por não dito! Assim que percebi o sentido da pergunta expliquei-lhe:

"Olha, tudo está em transformação, em movimento, pá, o que penso hoje é muito diferente do como pensava há uns anos, por isso, pá, era só o que me faltava que me fosse tirada a liberdade de mudar de opinião". Perante a minha resposta, surpreendido, ele sugou o café guardando uma réstia de discernimento para não engolir a chávena nem queimar a língua.

Aproveito, perante as notícias que nos chegam dos States, para mais uma vez declarar, agora em americano, que I'm not a commie pá!. Acho que agora já me safo, é que pretendo ir a New Orleans dar literalmente um bacalhau ao Buddy Guy e não quero problemas com as autoridades de lá.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Três pontos sobre um roubo organizado em prol da finança

Excerto do comunicado da "frente sindical e comissão de trabalhadores do Metro de Lisboa" aos utentes e ao país:
(...)
“Mas, o que fez o Governo com tudo o que nos roubou, a si e a nós? 
Entregou aos especuladores! No Metropolitano de Lisboa só as perdas com a especulação financeira dos swaps já somavam em Dezembro 1,24 MIL MILHÕES de euros! Para ter uma ideia do volume da coisa, vamos dar-lhe alguns exemplos:
  • Em média, numa semana, perde-se na especulação financeira o dinheiro suficiente para concluir o alargamento das estações da linha verde para 6 carruagens! E num mês, a verba necessária para levar o Metropolitano à zona ocidental de Lisboa (Alcântara).
  • O que pagamos em swaps dava para todos os clientes andarem sem pagar nada no Metro, durante 25 anos!
  • Os valores das perdas com os swaps seriam suficientes para pagar os salários dos trabalhadores do Metropolitano de Lisboa durante 17 anos! (…)"

São três pontos que dizem muito sobre a natureza de classe deste governo (e anteriores), acrescenta mais um exemplo à secção aqui do blog denominada O executivo do Estado moderno...

domingo, 26 de maio de 2013

Clara Ferreira Alves e a Linguagem

A linguagem correlaciona-se com o pensamento e condiciona-o. É sabido.

Há minutos na televisão, no programa Eixo do Mal, Clara Ferreira Alves no meio de um raciocínio disse algo como: "nós não conseguimos competir com os salários do leste da Europa".

Antes de mais, "nós" quem? Só mais uma questão: e que tal, inverter a coisa, e falar que são "Eles, a leste da Europa, [que] não conseguem competir com os nossos salários"?, porque não? É que caso fizesse sentido uma competição entre salários, então porquê que tal uniformização de salários põe a linguagem a promover uma redução dos seus valores? 

Clara Ferreira Alves simplesmente fez o que a maioria faz, que é expor o pensamento da classe dominante, mesmo que não saibam que o fazem, mesmo que pensem que não estão a tomar uma posição ideológica de classe. Só a burguesia - a classe dominante - tem como necessidade reduzir os salários, enquanto aos trabalhadores lhes interessa o oposto.

Não chega a fazer sentido para nós (classe trabalhadora) competirmos entre nós, mas se fizesse, quem não conseguiria competir com os nossos salários seriam os povos do leste da Europa. O objectivo dessa competição seria então a melhoria das condições de vida com aumento dos salários. Logo, a nossa linguagem deve evitar frases como a usada por Clara Ferreira Alves há minutos na TV e procurar usar a nossa própria linguagem. Mas o pensamento e linguagem da classe dominante está absorvido por todos nós, até pelo mais revolucionário dos revolucionários.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sobre o PSD, Cavaco Silva e a CEE - Álvaro Cunhal, em 1994

“(…)

Acompanhando as ofensivas antidemocráticas nestas quatro vertentes [económica, social, cultural e política], o governo de Cavaco Silva e do PSD sacrificam e submetem os interesses portugueses a interesses estrangeiros a troco de fundos da CEE que em grande parte são desviados dos seus declarados objectivos e metidos ao bolso de novos e velhos milionários, mas que apesar disso cobrem temporariamente carências graves e criam também temporariamente uma sensação de desafogo económico e financeiro.

Cavaco Silva, o governo, o PSD anunciaram que como resultado da acção do Governo, Portugal era o «oásis» da Europa, um país de «sucesso» em pleno desenvolvimento lançado como uma lebre no encalço da tartaruga da Europa.

A realidade é a progressiva destruição do aparelho produtivo (na agricultura, na indústria, nas pescas), a crise e a recessão económica geral. Sacrificam-se, comprometem-se e entregam-se ao capital estrangeiro empresas e sectores básicos estratégicos e recursos e potencialidades materiais e humanas. Agrada-se a dívida do Estado. Agrava-se a balança comercial. Aumenta o distanciamento em relação aos países mais desenvolvidos em vez da «coesão económica» tantas vezes apresentada como objectivo em vias de ser atingido. São cada vez mais graves as limitações à independência e soberania nacionais pela aceitação servil, seguidista e capitulacionista do Tratado de Maastricht e da imposição a Portugal pelos países mais desenvolvidos de decisões supracionais contrárias a interesses vitais portugueses.

A continuar no poder Cavaco Silva e o governo de direita, Portugal corre o risco não só de ver substituída a democracia política por um regime autoritário de cariz ditatorial, mas também de um dia não muito distante, quando diminuir, como é inevitável e está previsto, o fluxo de fundos da CEE, ser mergulhado numa profunda crise de carências alimentares, energéticas, técnicas e tecnológicas para superar as quais uma solução será então extremamente difícil, na situação que está a ser criada.

A política do governo do PSD de destruição das conquistas e valores democráticos da Revolução de Abril é uma política que destrói recursos e potencialidades que vêm do passado, que provoca uma penosa crise no presente e que faz pesar sobre Portugal gravíssimas ameaças para o futuro.”
Prefácio à 2ª edição (1994) de “A Revolução Portuguesa: o passado e o futuro”, de Álvaro Cunhal. (citação retirada daqui mas é melhor lê-lo aqui)

quarta-feira, 22 de maio de 2013

De pernas para o ar

É algo que vejo a acontecer frequentemente, sendo nos comentários das redes sociais ainda mais fácil de analisa-lo, e refiro ao seguinte: alguém emite uma opinião em que analisa a realidade concreta e o receptor toma a análise como uma crítica pessoal e moral.

Há dias alguém no facebook publicou a seguinte citação:
E como a reacções à publicação remetiam-se à necessidade de votar, decidi comentar também acrescentando apenas que "A participação na política de qualquer pessoa tem de ir muito para além do voto...". Realmente aparenta ser uma consideração de moral, e foi interpretado como tal, ao invés, de uma observação de uma necessidade concreta. A participação na política é uma necessidade concreta e não um mero dever idealizado somente a partir das nossas cabeças. Mas, lá tive de ouvir a desculparem-se!, após terem interpretado a minha afirmação como uma crítica pessoal, o que é - permitam-me este aparte - uma reacção muito curiosa e que gostaria de debruçar-me mais sobre ela, inclusivamente aqui no blog.

Vou tentar ser claro na minha posição: 
a moral de uma pessoa ou de um povo forma-se sob as circunstâncias do meio onde vivem, e, por isso, é fundamental analisarmos e compreendermos essas circunstâncias para, então, de acordo com as nossas necessidades, humanamente transformar as circunstâncias. Dai ser necessário formar e partilharmos opiniões, que é uma forma de refinarmos esse nosso conhecimento sobre o mundo. A cada alteração das circunstâncias, ou simplesmente, a cada alteração na compreensão que temos delas, uma nova moral se readapta. Também por isso, não é de estranhar que uma afirmação de uma análise concreta tenha implicitamente embutido uma consideração moral, tal como o exemplo acima. Devemos comentar sobre o concreto - ora, terei feito agora uma declaração de moral?!

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Synecdoche, New York (2008) - 10

Vi este filme pela segunda vez há pouco. Da primeira, há poucos meses atrás, a pretensão de escrever um post sobre ele tornou-se impossível por haver demasiadas camadas de compreensão para descortinar neste filme, o que tornou a sua intelectualização em palavras um acto que ultrapassou completamente as minhas capacidades.
Clicar aqui para ouvir a banda sonora
O enredo é complexo, e essa complexidade vai entropicamente crescendo ao longo do filme, às vezes demasiado, aparentemente, mas não poderia ser de outra forma quando o objectivo é compreender o ser humano, ir mesmo a fundo nessa busca, e ainda reproduzir artisticamente toda a sua riqueza comportamental, das emoções aos sentimentos, com ênfase nos medos e desejos humanos. No filme, o protagonista deseja ir além do seu criador: alguém com génio capaz de sintetizar numa obra cinematográfica a natureza humana, - argumentista que já antes vinha abordando e reflectindo sobre o assunto nos seus anteriores filmes como Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Adaptation, Human Nature e Being John Malkovich. Não me lembro de ver noutro filme uma busca tão abrangente acerca do comportamento humano, descendo tão fundo aos seus sentimentos como ao pensamentos; talvez um título: Magnólia - filme onde também participa Philip Seymour Hoffman.
Caden analisando papeis escritos com pensamentos íntimos de várias pessoas
Charlie Kaufman explora como nunca o fez a dialéctica que há entre a aparência e a essência, forma e conteúdo, enquanto se deixa emaranhar numa teia de percepções da realidade por parte dos personagens em que a realidade subjectiva e a concreta se torna difusa também para o espectador, buscando por respostas que, em vez de as descortinar e encontrar harmonia, gera cada vez mais e mais perguntas. Quanto mais são as questões novas, maior é a tensão e a ansiedade. O protagonista é reflexo maior no filme disto: psicótico com terríveis falhas de auto-percepção que cria uma megalómana obra de teatro com o obsessivo objectivo de investigar a essência de cada ser humano; nessa sua luta por fazer sentido, e pela sua existência, termina por se admitir (ou talvez resignar-se) e compreender que é como todos os outros seres humanos; o protagonista - argumentista e encenador - é também todos os personagens e essas pessoas são também o protagonista, isto é, uma sinédoque.

É um dos mais impressionantes filmes que vi, sobretudo pelo peculiar estilo de escrita. Sem dúvida um dos meus favoritos.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Falar de Música e não tanto sobre a vida dos músicos

No geral interessa-me pouco as entrevistas com músicos de pop ou rock, a maioria delas focam-se na vida dos músicos ou no que sentem em relação ao novo material, e raramente aprofundam assuntos como o processo e técnicas de composição das músicas. Não pretendo dizer que a vida e os sentimentos do artista não tenham interesse até para se compreender a música e todo um contexto relativo à criação e a interpretação das obras, contudo é uma pena que raramente se comente a obra noutras abordagens.

Aqui está um exemplo de uma entrevista com uma diferente abordagem, semelhante àquela que sinto falta que haja mais. Penso que se torna interessante para qualquer pessoa, mesmo que não tenha formação musical, perceber como surge determinado riff de guitarra ou a escolha do compasso. Nada como meter nas mãos do compositor o instrumento de referência e fazê-lo falar.
- You've written that in 5/8!
- Yeah?! Whatever!

domingo, 12 de maio de 2013

Colectânea de Artigos (Março e Abril de 2013)

  • Declarações de Joana Manuel, Em Defesa de um Portugal Soberano e Desenvolvido;
    E foi isso que percebi ao preparar esta intervenção: o que impediu os meus pais de serem jovens é aquilo que me cola à pele o epíteto. Jovem. É uma espécie de espelho invertido. Não sei se basta passar através dele, como a Alice. Um dia vamos mesmo ter de parti-lo.
  • Chavez, o desafio e a esperança, por Miguel Urbano Rodrigues; Como definir e situar o revolucionário Hugo Chavez? 
  • Na era dos comentadores, o "euísmo" substituí o "achismo", por Rogério, in Conversa Avinagrada;
    Com o desenrolar dos tempos, o "eu acho que" ocupou o discurso baseado na "mensagem" televisiva, depois secundada na imprensa escrita. Mas "achar" ainda significava pensar, ter algum espírito critico, desmontar e tentar perceber...
  • Raquel Varela, as deserções e o PCP, por Victor Dias, in O Tempo das Cerejas;
    O texto rico que ajuda a compreender a história e a posição do PCP em relação à guerra colonial.
  • Onde há Partido, por Antónios Santos, in Avante!;
    Às vezes, só pela ausência compreendemos o verdadeiro valor do que temos...

    sexta-feira, 3 de maio de 2013

    Corrupção, um dos bodes expiatórios da ditadura do capital

    Disse-lhe: «Vivemos numa ditadura do grande capital». A ela desagradou-lhe o termo ditadura e respondeu-me que só dizia isso porque não tinha vivido os tempos do fascismo. Ainda tentei explicar que para uma ditadura ser uma ditadura não precisa necessariamente de exercer terrorismo de Estado contra os seus cidadãos, pelo menos, não abertamente, contudo a tese de que vivemos numa ditadura do capital foi afastada por ela com uma falácia: a afirmação não é verdadeira porque eu sou muito novo. No fundo foi isso.

    Mas hoje manda-me um mail com os seguintes sublinhados:
    "O que o Estado pagou a mais às PPP só é possível porque a sede da política - Assembleia da República - está transformada num centro de negócios" - isto relativo a uma auto-estrada concessionada em que o concessionário paga multas, ou recebe prémios do Estado, em função da taxa de sinistralidade. 
    "Se a sinistralidade aumentar 10%, o concessionário tem de pagar uma multa de 600 mil euros, mas, se houver uma redução de 10% na sinistralidade, o Estado tem de pagar à empresa 30 milhões de euros"
    Segundo sublinhado:
    Referindo-se à nacionalização do BPN, Paulo Morais lembrou que o anterior governo socialista nacionalizou apenas os prejuízos, que estão a ser pagos pelo povo português, e permitiu que os acionistas da SLN - Sociedade Lusa de Negócios (agora com o nome Galilei), detentora do banco, ficasse com os ativos e com todas as empresas lucrativas.
    E por fim:
    A aquisição de dois submarinos à Alemanha é, segundo Paulo Morais, mais uma caso de "corrupção comprovada", não pelos tribunais portugueses, mas pelos tribunais da Alemanha. (fonte)
    Faz-me lembrar um amigo meu que, há uns anos, ao tentar refutar-me punha-se a explanar uma série infindável de factos que, em vez de negar a minha tese, acabava por confirma-la. Depois repetia e repetia o processo na esperança que conseguisse refutar a minha tese, mas sempre reforçando-a. Não sei o que fazer com pessoas assim, que entregam-se de forma tão fiel a um estado de negação.

    Mas, nestes sublinhados acima, há uma tese que sossega as mentes que querem por tudo ignorar a existência na nossa sociedade de uma luta de classes, e uma subjugação da maioria da população ao capital monopolista e financeiro, que é a tese de que a culpa é da corrupção. É como quem diz «isto está mal por causa desses malandros e incompetentes». Mas como surge a corrupção? Como é que a corrupção é tão sábia naqueles que deve favorecer? Porque é tão bem exercida em favor do capital?

    Colocar as culpas na corrupção serve como bode expiatório para o que é, na verdade, intrínseco à classe dominante, que é satisfazer as suas necessidades seja como for, e além da corrupção, pode usar ou não abertamente o terrorismo de Estado. Vivemos numa ditadura do grande capital, e penso que uma prova disso é a própria corrupção estar submetida a ele.

    sábado, 27 de abril de 2013

    Medo do medo dos outros

    Ultimamente tem acontecido sempre. Em vésperas de uma manifestação vêm-me dissuadir de nelas participar preocupados de que algo de mau me possa acontecer. Foi o que ocorreu mais uma vez em vésperas do desfile do 25 de Abril na Av. da Liberdade. Essas pessoas conhecem bem alguns agentes da PSP que evitaram meter dias de férias durante a Páscoa para o poderem fazer para os dias 25 de Abril e 1º de Maio por receio de serem chamados para fazer a segurança nesses dias, escolhendo assim não passar com as suas famílias a Páscoa, que é um feriado de grande tradição nas suas terras no norte do país, por causa do medo de possíveis desacatos, o que nos deu a todos a entender que a ameaça seria séria. Acontece, porém, que destas pessoas que me tentam dissuadir de participar em manifestações do género nunca participaram em nenhuma, logo desconhecem que, por exemplo, a Av. da Liberdade no dia do desfile é muitíssimo mais segura do que num dia normal. O mais grave que terá acontecido no desfile na passada quinta-feira foi uma criança de colo que fez um valente cocó na fralda.

    Ainda não há motivos para ter medo de participar na esmagadora maioria das manifestações, mas porque elas não são todas iguais, aconselho a quem tem interesse em participar e tem receio, a falar primeiro com quem está acostumado a ir a manifestações, pois ninguém melhor que essas pessoas sabem avaliar a justeza dos medos.

    É interessante a distância entre a realidade e a sua percepção de quem sobre manifestações está quase só "informada" pelos média. Para medos já nos basta e pesa aqueles que têm fundamento de existir.


    quarta-feira, 17 de abril de 2013

    The Man Who Wasn't There - 10

    Detesto os irmão Coen. Tudo começou numa tarde algures no século XXI enquanto via Fargo... É uma longa história.

    Em The Man Who Wasn't There o senhor Meursault* nunca foi morfologicamente tão parecido com o seu criador, A. Camus, nem nunca teve tão idêntica reencarnação como na pele do lacónico Ed Crane - o protagonista do filme dos irmãos Coen.

    Um enredo brilhante, imprevisível, peculiar, que se encaixa perfeitamente com a fotografia e no ritmo da narrativa, integrando várias componentes noir, sendo coerente e consistente do início ao fim. O absurdo está na obra nas mais variadas formas e camadas, desde sonhos, visões e descrições de fenómenos paranormais, como o absurdo camusiano, onde o protagonista do filme atravessa com indiferença pelos acontecimentos quotidianos tal como, caminhar, cortar o cabelo, fechar um fecho dum vestido ou assassinar uma pessoa. A morte atravessa toda a obra, contudo, ao contrário de outras em que isso faz reflectir e reflexionar a vida, neste caso, a incidência torna mais claro o seu absurdo e a sua falta de sentido.

    Um dos elementos noir do filme é Birdy, um bela e inocente mulher, interpretada por Scarlett Johansson, responsável pelos momentos que mais enfaticamente se mostra a ambivalência do protagonista e da vida. Um desses momentos é o encanto com que Ed Crane ouve Birdy tocar piano, e a posterior revelação de que ela tocava música sem alma, de forma mecânica, tão desapaixonadamente como a forma como o personagem principal vive.

    Nunca antes Ed Crane se entusiasmou e se motivou fosse pelo que fosse, revelou que só se casou porque a mulher assim o decidiu, mas, no final, aceitando com naturalidade a arbitrariedade da justiça e da morte, obrigado a exprimir-se, o lacónico Ed Crane confessa que após a morte tem o interesse em falar a quem em vida não disse aquilo de que não há palavras para se poder dizer, em particular à mulher. Que significa isso quanto aos sentimentos que tinha com ela? Não sei, nada sei, às vezes quanto mais observamos menos compreendemos.

    A inexistência dessas palavras talvez seja aquilo que me impediu de escrever ultimamente aqui no blog, mas o certo é que The Man Who Wasn't There é a partir de hoje um dos meus filmes de eleição, e digo: os irmãos Coen são génios.


    *personagem principal do livro O Estrangeiro.

    quarta-feira, 27 de março de 2013

    Steven Wilson - Significant Other


    Encruzilhada. Crossroads, [cruzamento] em inglês. Termo usado para simbolizar uma situação de decisão delicada e determinante. Voltar atrás, ao contrário de um precipício, não é solução...

    Pullin' back from the precipice
    Feel so small now, stars shine bright above

    ...mas, fica-nos igualmente mais vivo tudo o que nos rodeia. Reavalia-se o valor da vida e contempla-se o meio, por exemplo, a beleza nesta música que...

    Passin' through the day, only child
    Breathe a sigh, other leads apply

    ...ao som da guitarra que vai shoegando a angelical melodia faz um incompatível contraste tal como a situação que dá lugar à encruzilhada. Amizade, o valor em contemplação; distorcida pelas guitarras, resta decidir se chegou a hora de deixar a distorção abafar a bela melodia, o inverso, ou fazer fade out.

    Raining all day, trying to reach you
    Feel so helpless, can't stop counting time (but in)
    Don't know why, hands (something) stealin' my heart
    Graceful dives', other leads apply* (rain down from the sky) [*]