Detesto os irmão Coen. Tudo começou numa tarde algures no século XXI enquanto via Fargo... É uma longa história.
Em The Man Who Wasn't There o senhor Meursault* nunca foi morfologicamente tão parecido com o seu criador, A. Camus, nem nunca teve tão idêntica reencarnação como na pele do lacónico Ed Crane - o protagonista do filme dos irmãos Coen.
Um enredo brilhante, imprevisível, peculiar, que se encaixa perfeitamente com a fotografia e no ritmo da narrativa, integrando várias componentes noir, sendo coerente e consistente do início ao fim. O absurdo está na obra nas mais variadas formas e camadas, desde sonhos, visões e descrições de fenómenos paranormais, como o absurdo camusiano, onde o protagonista do filme atravessa com indiferença pelos acontecimentos quotidianos tal como, caminhar, cortar o cabelo, fechar um fecho dum vestido ou assassinar uma pessoa. A morte atravessa toda a obra, contudo, ao contrário de outras em que isso faz reflectir e reflexionar a vida, neste caso, a incidência torna mais claro o seu absurdo e a sua falta de sentido.
Em The Man Who Wasn't There o senhor Meursault* nunca foi morfologicamente tão parecido com o seu criador, A. Camus, nem nunca teve tão idêntica reencarnação como na pele do lacónico Ed Crane - o protagonista do filme dos irmãos Coen.
Um enredo brilhante, imprevisível, peculiar, que se encaixa perfeitamente com a fotografia e no ritmo da narrativa, integrando várias componentes noir, sendo coerente e consistente do início ao fim. O absurdo está na obra nas mais variadas formas e camadas, desde sonhos, visões e descrições de fenómenos paranormais, como o absurdo camusiano, onde o protagonista do filme atravessa com indiferença pelos acontecimentos quotidianos tal como, caminhar, cortar o cabelo, fechar um fecho dum vestido ou assassinar uma pessoa. A morte atravessa toda a obra, contudo, ao contrário de outras em que isso faz reflectir e reflexionar a vida, neste caso, a incidência torna mais claro o seu absurdo e a sua falta de sentido.
Um dos elementos noir do filme é Birdy, um bela e inocente mulher, interpretada por Scarlett Johansson, responsável pelos momentos que mais enfaticamente se mostra a ambivalência do protagonista e da vida. Um desses momentos é o encanto com que Ed Crane ouve Birdy tocar piano, e a posterior revelação de que ela tocava música sem alma, de forma mecânica, tão desapaixonadamente como a forma como o personagem principal vive.
Nunca antes Ed Crane se entusiasmou e se motivou fosse pelo que fosse, revelou que só se casou porque a mulher assim o decidiu, mas, no final, aceitando com naturalidade a arbitrariedade da justiça e da morte, obrigado a exprimir-se, o lacónico Ed Crane confessa que após a morte tem o interesse em falar a quem em vida não disse aquilo de que não há palavras para se poder dizer, em particular à mulher. Que significa isso quanto aos sentimentos que tinha com ela? Não sei, nada sei, às vezes quanto mais observamos menos compreendemos.
A inexistência dessas palavras talvez seja aquilo que me impediu de escrever ultimamente aqui no blog, mas o certo é que The Man Who Wasn't There é a partir de hoje um dos meus filmes de eleição, e digo: os irmãos Coen são génios.
*personagem principal do livro O Estrangeiro.
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