quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Sobre a Cultura, por Pedro Namora

Para ver a entrevista na íntegra, clicar aqui.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Velho que lia Romances de Amor

- É verdade que sabes ler, compadre?
- Alguma coisa.
- E que é que estás a ler?
- Um romance. Mas cala-te. Se falas a chama mexe-se e mexem-se-me as letras.
O outro afastou-se para não estorvar, mas era tal a atenção que o velho prestava ao livro que não suportou ficar-se à margem.
- De que é que trata?
- Do amor.
(…)
- Não me lixes. Com fêmeas ricas, das que fervem?
O velho fechou o livro num repente fazendo tremer a chama do candeeiro.
- Não. Trata-se do outro amor. Do que dói. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Negociatas com a Banca (só mais um exemplo)

Imagina que tu me emprestas dinheiro. De seguida, pego em parte desse dinheiro e empresto-te a ti, mas agora com juros. É um excelente negócio, se estiveres interessado neste negócio vem falar comigo. Pena é que não esteja a ser original, pois é isso que poderá vir a acontecer na «nacionalização» do Banif.

Lê-se na imprensa que há dias o Ministério das Finanças anunciou que concluiu a injecção de capital de 1100 milhões de euros no Banif [1], nos quais uma parte, de 400 milhões, serão em instrumentos subordinados convertíveis para comprar dívida soberana [2].


Já agora, só mais uns dados sobre esta negociata:
  • em 10 anos o banco teve 508,4 milhões de euros de lucros líquidos, tendo entregue aos seus accionistas dividendos de 216 milhões de euros (41 por cento do total de lucros); 
  • o BANIF está cotado em bolsa e apesar de o seu valor actual ser de 83 milhões de euros, o Estado decide «injectar 13,3 vezes esse valor». [3]
Enfim, mais um post a ser integrado na etiqueta «O executivo do Estado moderno...» deste blog.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto

This photo provided by Paris' Holocaust Memorial shows a German soldier shooting a Ukrainian Jew during a mass execution in Vinnytsia, Ukraine, sometime between 1941 and 1943. This image is titled "The last Jew in Vinnitsa", the text that was written on the back of the photograph, which was found in a photo album belonging to a German soldier. (AP Photo/USHMM/LOC)
Ver mais aqui.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Sem-Abrigo Vs Casas Desabitadas (Psicopatia?)

Este cartoon com uma "cidade tenda" num lado e casas desabitadas do outro é uma excelente imagem da nossa realidade.
Em Portugal, segundo os últimos Census, existem 735.128 casas vazias ao mesmo tempo que cerca de 16.460 pessoas vivem em alojamentos precários e 696 são reconhecidos sem-abrigo.

Tal como já no outro blog escrevi, isto é uma situação absurda: Há mais casas vazias do que sem-abrigo!

Esta realidade é uma consequência do capitalismo, o tal modo de produção que alguns dizem que funciona! E funciona, têm razão, mas funciona de determinada forma e leva milhares de pessoas a viverem sem-tecto ou em condições de habitação inapropriadas.

Que tratamento têm os sem-abrigo da restante população? Não sei até que ponto é justo analisar através da arquitectura, num exercício quase psicanalítico, o pensamento dominante de uma sociedade, contudo esta outra imagem é algo que deixa que pensar:

Grades para que os sem abrigo se tornem ainda mais sem abrigo,
Av. Almirante Reis, Lisboa, 2012. (daqui)


quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

The Hours - 9

The Hours é um excelente filme. É-o pela história com enredo complexo e bem construído, pelas actuações dos actores, pelo tema... A morte, sempre presente no filme, intensifica a importância e a reflexão perante todos os pormenores no quotidiano dos personagens. A Virginia Woolf (Nicole Kidman) é-lhe perguntado:
- No teu livro, dizes que alguém tem de morrer. Porquê?
- Alguém tem de morrer para que possamos valorizar mais a vida. É pelo contraste.
The Hours (trailler)
Não sei bem que palavras usar para dizer que este assunto é um dos que mais me fascina: o suicídio. A valorização feita pelas pessoas à vida coexiste com esta curiosa acção que é a decisão de terminar com a própria vida. Tudo me interessa, inclusivamente o estados psíquicos que levam às horas parecerem horas e horas...

Felizmente temos a capacidade de podermos terminar com a nossa própria vida. Pessoalmente, poucas são as coisas que mais me assustam, do que imaginar-me impossibilitado a nível motor de me matar caso queira. O suicídio talvez seja o último reduto da dignidade perante uma ausência de qualidade de vida e, nesse caso, uma capacidade fundamental de libertação individual. Mas não sei bem que palavras usar.

"Beim Schlafengehen" - Richard Strauss

  
 
Agora que o dia me cansou,
serão meus fervorosos desejos
acolhidos gentilmente pela noite estrelada
como uma criança fatigada.
Mãos, parem toda actividade.
Fronte, esqueça todo pensamento.
Todos os meus sentidos agora
querem mergulhar no sono.
E minha alma, sem amarras,
deseja flutuar com as asas livres
para, na esfera mágica da noite,
viver uma vida profunda e múltipla.
(*)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

"O inferno são os outros"

Vejo tanta malta a comentar sobre os outros! Os outros!

Dizem que deviam ser "azules" ou pentearem-se como macacos. Que deviam saltar à corda com cabos de alta-tensão, ou então, que deveriam antes ter ido nadar para uma barragem e aparecerem dento de uma lâmpada. Deviam... deveriam... deverão... bla bla blá.

Não discutem é o que está por detrás, no fundo, na raiz. Aquilo que fazem as pessoas dever ou não dever. Aquilo que faz as pessoas serem assim e não outra coisa. Os outros, afinal, somos também nós.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

José Gomes Ferreira explica (e bem) como devo pensar

José Gomes Ferreira - o jornalista de economia da SIC - fez há pouco um conjunto de afirmações no Opinião Pública lamentáveis. Na sua tese o FMI está cá para ajudar e que se não fosse ele (e troika) nem sequer havia dinheiro para pagar os salários.

É falso. A verdade é outra: os trabalhadores pagam, só por si, pelos seus impostos, o chamado "Estado Social". Logo, são os 'FMI's que vivem à nossa custa.

A entrevistadora dizia que as pessoas não sabem, mas como ele é especialista e informado iria explicar, e ele lá explicou aquilo que nós "precisamos de entender" - repetia ele. E é assim que continua o saque, feito também com a ajuda dos "especialistas" que nos ensinam na TV o que pensar.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O Medo e os Contos de Fadas

Há uns anos passei uma passagem de ano novo na Amareleja, em Serpa, em casa de um amigo. Uma estrada pouco caminhada dava acesso à central fotovoltaica, mas após a Central a estrada continuava servindo um propósito que me ficou um mistério. Espanha, ou um portal intergaláctico, imagino que um deles fosse a razão da estrada continuar. Nunca saberemos!
The Village (2004) - 10
Essa estrada, para o grupo de amigos em que estava inserido, era só a referência para não nos perdermos ao nos intrometermos pelo bosque adentro... Longas árvores. Rochedos! Barulhos e cheiros estranhos. Coelhos. Um sofa! Silvas. Frigoríficos. Pássaros. Sacos de plástico e pneus. O rio, poças de água e mais silvas por todo o lado. Humidade e um esquentador! Muito mobiliário! Cobras e piu-pius a cantar. Caminhamos e caminhamos... Foi uma caminhada (mais ou menos) deslumbrante pela floresta!

O nosso amigo, que ali tem casa, contou então uma história que se conta acerca daqueles caminhos por onde andávamos. Infelizmente, não me recordo como ela era exactamente, mas salvo erro, envolvia crianças que quando ali iam brincar, desapareciam, após serem atraídos pelo choro de um bebé que terá, há muitos anos, ali ficado após sua mãe naqueles caminhos ter ido desengravidar! Talvez tenha introduzido elementos novos à história, ou então corrompi-a quase totalmente, mas estou certo que mantive aquele que foi para mim o motivo, pelo qual, aquele conto vive de boca em boca até hoje. Esse motivo é meter medo às crianças para ali não irem brincar, mantendo-as assim afastadas e a salvo dos perigos que aquela zona florestal esconde.
Ver Trailler
Os contos têm uma função importante no desenvolvimento das crianças, alertando-as, pelo inconsciente, ajudando-as a defenderem de perigos que ainda não têm capacidade para assimilar. Vejamos, por exemplo, uma função do conto do Capuchinho Vermelho. No conto...
...o Capuchinho Vermelho chega a casa da avó, mas quando lá chega já antes um comunista lhe tinha na cama comido a avó. Tem uma conversa muito apelativa na cama para crianças mas extremamente enfadonha para um adulto e zás! O comunista come o Capuchinho Vermelho! Um caçador entra...
Peço desculpa, não era um comunista, mas um lobo; enfim, é um pormenor "sem" importância. 
Um dos filmes mais interessantes que vi ultimamente
Não devemos ter pudor nem receio em contar esta desagradável estória. É um conto que tem tantas interpretações como possíveis funções para o desenvolvimento de uma criança. Afinal, alguém, no seu perfeito juízo se viraria para uma criança de 5 anos para lhe explicar, em tom grave, que ela deve ter cuidado com os predadores sexuais?! Ou confiaria num simples aviso de que os lobos são perigosos?

O medo é fundamental para a sobrevivência. Afasta ou acautela-nos dos perigos. Isto dos contos, como a estória da Almeraleja, é o medo a ser explorado em boa causa, contudo, quantas "estórias da carochinha" não nos entram pelos ouvidos e, constantemente, pela televisão? Não são só as crianças a tomarem estórias como verdadeiras e a deixarem-se manipular pelo medo.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"É possível amar e odiar ao mesmo tempo"

Mas será muito difícil compreender que é possível isto?

La belle personne (2008) - 4
O estudo da Filosofia é importantíssimo. Ela não é, ao contrário que muitas vezes oiço, uma mera curiosidade e algo sem utilidade na prática. Quem diz isso não compreende que é o próprio exercício prático que refina e/ou comprova a justeza das ideias, da filosofia.

Um simples curioso nas variadas formas do pensamento certamente já leu sobre filosofias orientais como o hinduísmo, taoismo, ou conceitos como Yin-Yang, mesmo que ignorem a filosofia europeia contemporânea como, por exemplo, a dialéctica hegeliana e marxista. Todas estas concepções do pensamento têm pontos em comum, em particular, o conflito e complementaridade entre opostos. Vejamos, por exemplo, como descreve o Wikipedia sobre Yin-Yang:

O yin-yang são dois conceitos do taoísmo, que expõem a dualidade de tudo o que existe no universo. Descreve as duas forças fundamentais opostas e complementares, que se encontram em todas as coisas. O "yin" é o princípio feminino, a terra, a passividade, escuridão, e absorção. O "yang" é o princípio masculino, o céu, a luz, atividade, e penetração.
Quem possui o conhecimento disto sabe da profunda utilidade que a filosofia tem nas mais vulgares acções do dia-a-dia, tanto na análise muito mais rápida e melhor da realidade, como, por fim, uma superior assertividade na própria acção quotidiana de transformação do mundo. Logo, quem tem este conhecimento, de que o mundo é dialéctico, não se surpreende que uma pessoa ame e odeie em simultâneo outra, pois é essa a natureza de todas as coisas, uma contradição de opostos, nem sempre evidente, mas sempre lá.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Todas as crenças são para ser combatidas. Sejam elas religiosas ou não.


Todos vivemos com crenças, umas conformes com a realidade, outras não.  É fundamental procurar a raiz das coisas para abandonarmos as crenças que são falsas e mergulhar no Conhecimento. Numa palavra: aprender a realidade.

Acontece porém, que nem todos temos condições para aprender, libertarmo-nos da ignorância, das crendices e superstições, seja por falta de meios sociais e económicos ou uma deficiência mental, seja por falta de estofo e coragem para, como indivíduos, nos transformarmos e abdicarmos do que outrora defendêramos ou gostaríamos de ser. Além de que a realidade é como é, não se importando nada com o que cada um de nós é ou gostaria que ela fosse.

Outrora, pensava-se que a Terra era plana, mas fruto do desenvolvimento técnico foi possível, e necessário, que essa crença fosse contradita dando lugar a perspectivas mais ajustadas com a realidade até chegarmos à ideia que temos hoje do nosso planeta;  como todos sabemos o planeta Terra tem a forma de um presunto. Esta evolução no conhecimento refinou-se e desenvolveu-se sem a intromissão de Júpiter ou Minerva entretanto enxotados para a gaveta da mitologia.

É desse conflito de ideias que se refina o conhecimento, se aprende a analisar o universo e a transformar nosso meio. É um processo dialéctico de tese, antítese e síntese.

Todas as crenças são para ser combatidas. Sejam elas religiosas ou não.

Penso que boa parte de quem evita o diálogo, o confronto com o contraditório, é porque no fundo sabe que é incapaz de fundamentar a tese que tem em determinada crença. Não tem coragem para enfrentar a antítese e desenvolver nova tese mais conforme com a realidade. Outra parte não pretende assumir a sua ignorância e aprender. Por muito boa pessoa que seja, quer pertença a uma parte ou a outra, age assim de má-fé.

Da minha experiência pessoal, os crentes no deus Deus são os mais fundamentalistas que conheço. Alguns ousam inclusivamente a dizer-me que não tenho o direito de atacar a suas crenças! Tomam assim uma posição moral cobarde e arrogante: cobarde, ao evitar confrontarem-se com a solidez das suas crenças; arrogante, por se porem acima dos restantes, achando que as suas concepções ideológicas acerca da existência de um deus não são discutíveis, ao contrário de tudo o resto. Esta posição moral frequente em teistas vai contra o progresso da evolução das ideias.

Todas as crenças devem ser combatidas. Sejam elas religiosas ou não. Não ignorando que a capacidade e a busca pelo conhecimento é limitada, tanto pelas nossas características animais quer pelo grau de evolução técnico-cientifico do momento histórico que se viva, não devemos nunca abdicar do desafio de aprender: largar as crenças falsas ou desactualizadas e tomar as verdadeiras.

Deus, um dia juntar-se-á aos outros mais de sete mil deuses catalogados na gaveta da mitologia. Mas, se estiver enganado e um dia se provar a existência de um deus, então o meu dever é aceita-lo e, portanto, essa ideia passarei a defender. Se isso acontecer fá-lo-ei em prol do progresso, em luta contra o obscurantismo dos ateus, e em nome desse deus.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Colectânea de artigos (Dezembro de 2012)

  • Dimitrov* não diria melhor, in Companheiro Vasco;
    trecho da intervenção de Paulo Raimundo no Congresso do PCP, numa abordagem com paralelismo com a frase de Giorgi Dimitrov: «Trabalho de massas, luta de massas, resistência de massas, frente única, nada de aventuras – tal é o alfa e o ómega da táctica comunista.»;
  • Isto é Portugal, in Um Tal de Blog;
    Reportagem obrigatória da RTP para conhecer uma realidade que até como números muitos preferem ignorar. É a miséria da classe trabalhadora tanto na chamada classe baixa como na média. Crianças com fome.
  • O Estado Híbrido e a Democracia Avançada, in Império Barbaro;
    O Estado Social é uma ilusão terminológica (...) que aponta o Estado como uma espécie de mediador de garantias (...). Ou seja, assenta em primeiro lugar na ideia de que o Estado não é um instrumento de repressão, mas apenas de organização - (...) - assegurando ao rico a liberdade de mercado e ao pobre a protecção da exclusão gerada por essa liberdade de mercado. (...).
  • Acima do Bem e do Mal, por Carlos Morais, in Resistir.info;
    Excelente síntese expondo que a luta armada na Colômbia é uma necessidade, a partir de uma breve contextualização histórica e uma caracterização da terrorista oligarquia contra o seu povo, enquanto critica o actor Luis Tosar pelo seu cobarde descomprometimento e frivolidade perante o assunto.
  • Bayer Leverkusen. Ao cuidado de Jorge Jesus, in Lateral Esquerdo;
    uma observação exaustiva dos processos tácticos do Leverkusen, resultando numa lição de futebol. Uma peça exemplar de como se deve tratar o futebol na blogosfera.
  • URSS, 90 anos depois, in Kontra Korrente;
    Um texto que dá uma boa perspectiva de como pensam e sentem os comunistas acerca da URSS. Nem todos pensam assim, mas penso ser esta a forma mais adequada de olhar para a URSS.