Esteiros é uma obra literária neo-realista de Soeiro Pereira Gomes. Uma obra de 1941 maravilhosa de se ler, mas sem que isso nos faça perder o sentido da dura realidade da época. O livro por onde li era de 76 e passou pelas mãos de alguém que o sublinhou e comentou, penso que tenha sido uma professora, tendo em conta a natureza dos sublinhados. No início, logo na dedicatória surge o seguinte sublinhado por ela feita:
Para os filhos dos homens que nunca foram meninos escrevi este livro.
Foi para eles que Soeiro dedicou a obra.
Logo abaixo, a leitora escreveu um interessante comentário:
Ser menino é um “luxo” de classe.
Ora, isso assim era. Ser-se menino era um luxo naquela época. Felizmente que hoje uma criança poder ser menino é tomado pela maioria de nós como uma necessidade e um direito humano. Contudo, pelo rumo económico-social em que ainda nos estamos a deixar ir, questiono-me, até quando este direito (ou será privilégio?!) de uma criança ser criança continuará a ser uma realidade aqui mesmo em Portugal?
A todos que, como Soeiro Pereira Gomes, lutaram para que os seus filhos e o dos outros pudessem ser crianças, o mínimo é estarmos gratos, ao invés de os premiamos com estúpidos preconceitos, e o ideal seria juntarmos a eles na luta pelo direito das crianças serem crianças.
Post dedicado às crianças que já não podem ser crianças.
Era uma vez uma árvore que vivia no campo e havia um menino que se chamava João e vivia lá ao pé, e ele gostava de jogar futebol com a sua bola do Benfica e houve um certo dia que a bola foi para cima da árvore e de repente houve um menino que o João não conhecia e esse menino trepou a árvore e caiu dela abaixo e esbardalhou-se todinho e tiveram de chamar uma ambulância e passado uns dias ele ficou bem e foram jogar à bola do João enquanto os pais deles falavam e por fim ficaram amigos para sempre.
Foi um grande concerto! Muito acima das minhas expectativas.
Como alguns já poderão ter lido por aqui, sou um grande fã dos Genesis na sua fase progressiva inicial e há tempos escrevi vários posts aquando a vinda dos The Muscial Box - a banda tributo oficial dos Genesis. Agora, para assistir aos G2 Definitive Genesis não tinha grandes expectativas, e a comparação entre as duas bandas tributo seria certamente em favor da primeira, pensei: mas não! São muito diferentes, de uma forma que se complementam.Enquanto os The Musical Box (TMB) são como um museu vivo em que simulam quase tudo como os originais, os G2 põe o máximo que conseguem às músicas sem as descaracterizarem, e em boa verdade, muitas das versões superam as dos TMB. Contudo, prefiro assistir aos museu vivo dos Genesis.
O concerto de hoje à noite será dedicado ao álbum ao vivo Seconds Out, enquanto o de há pouco, que foi anunciado como sendo dedicado aos álbuns da fase Peter Gabriel, afinal, não foi apenas isso que tocaram, e pelas músicas da fase Phil Collins que ouvi há instantes, garanto-vos que o espectáculo de hoje valerá cada cêntimo. É uma actuação tremenda a todos os níveis (excepto o cénico) em cima de algumas das melhores músicas alguma vez criadas. Que grande concerto!
"Só não arranja emprego quem não quer" - disse ela.
Ela que diga isso entre um conjunto de pessoas com idades entre os 25 e os 35 para ver se não leva um tabefe, ou uma resposta que até se borra toda. A malta anda a passar-se, é melhor terem cuidado com as barbaridades que dizem.
Sendo um filme produzido por um grande estúdio de Hollywood surpreendeu-me a sensibilidade demonstrada em determinado pormenor em prol da classe trabalhadora. É certo que há muitos filmes que mostram as condições de vida dos trabalhadores, mesmo explicitamente, mas neste caso há um pormenor que normalmente só quem adere à luta proletária percebe: a aprendizagem; a aprendizagem requerida (e necessária) no processo de consciencialização acerca da sociedade em que se vive e na consequente luta pela transformação dessa sociedade.
Tom Joad, personagem principal, é politicamente ingénuo, mas vítima das contradições do capitalismo num momento histórico particularmente difícil e violento à vida humana - a Grande Depressão -, vive com os seus um conjunto de experiências que lhe permite ganhar rapidamente uma consciência de classe e incita-o para acção para lutar por justiça social.
O filme tem uma narrativa cujo ritmo pode não agradar a um espectador mais impaciente, imediatista, mas é extremamente rico em conteúdo, contudo, mais que poder ver e ouvir, é preciso que o espectador saiba reparar. Durante o filme várias temáticas são explicita ou implicitamente abordadas, como por exemplo a natureza de classe das leis e das autoridades (sempre em favor do capital e da propriedade privada), a importância das greves e da união dos trabalhadores, o desenvolvimento da corrupção moral dos homens perante o medo do desemprego e ameaça do patrão, ameaça essa que também incluía o desalojamento, pois os trabalhadores e suas famílias ficavam frequentemente a habitar em casebres emprestados pelos seus patrões, e aborda assuntos como a jorna, a migração... É um filme, que além de uma lição para o personagem principal, é-o também para o espectador.
Quando mais tarde li A Mãe, de Gorki, o filme vinha-me constantemente à cabeça. Além de haver em ambas as obras uma mãe preocupada com a vida do filho, há também um paralelismo na aprendizagem que os personagens desenvolvem, obtendo progressivamente cada vez mais conhecimentos que lhes permitem transformar a sociedade, e em ambas as obras, isso acontecia sobretudo na prática, durante essa luta transformadora. Em Gorki, não me surpreenderia tal sensibilidade em reparar na existência desse processo de aprendizagem, mas num filme de Hollywood que ganha dois Óscares, é estranho. Claro, a introdução do tema da aprendizagem no filme dever-se-á muito ao livro de John Steinbeck do qual ele tem origem - livro que ainda não li.
As Vinhas da Ira é um filme em que o personagem principal é um operário em construção, chama-se Tom Joad como se poderia chamar Joe Hill, o seu nome cantado ou não, é como um espectro que ronda onde quer que haja injustiça e alguém que a combata. Como disse Tom Joad:
Andarei por aí no escuro. Estarei em toda a parte para onde quer que olhem. Onde houver uma luta para que os famintos possam comer, estarei lá. Onde quer que haja um polícia a espancar alguém, estarei lá. Estarei nos gritos das pessoas quando se zangam. Estarei nos risos das crianças quando têm fome e as chamam para jantar. E quando as pessoas comem aquilo que cultivam, e vivem nas casas que constroem. Eu estarei lá, também.
Esta noite estive amigos. Muita conversa, sobretudo a roçar o nonsense, contudo, quase acidentalmente, chegaram a falar em política.
"Só quem é sindicalizado pode fazer greve" - foi o mito que fiz cair por terra. Todos os trabalhadores podem fazer greve.
No entanto, ninguém percebeu que o dever deles era fazer greve. Concordam com ela, partilham muitas das motivações dos grevistas para a fazer, mas, o que mais me impressionou, foi que nem sequer tinham reparado que lhes tocava também a eles a decisão, e o dever, de optar fazer ou não greve. Isto é, não se aperceberam que são cidadãos.
Impressiona-me tamanha alienação. No entanto, um puto de 13 anos, sabendo que sou comunista, curioso, começou a fazer inúmeras perguntas. É claro que já aprendeu quase tudo aquilo que uma sociedade anti-comunista lhe diz sobre o comunismo, mas demonstrou interesse e conhecimento sobre história e política bastante considerável para o que acho expectável em alguém da idade dele. Avisei-o: vê lá se queres mesmo saber as respostas a essas perguntas que me fazes, pois arriscas-te a transformares-te num comunista - falo por experiência própria. Espero que tenha demovido o rapaz dessa ideia absurda de querer achar as respostas às perguntas, não vá ele ganhar consciência de que é um ser social e político.
Estavam na tv a falar de caridade, e desliguei logo. No dia a seguir não se falava de outra coisa, a criatura que estava a ser entrevistada disse esta coisa.
Mas este post tem somente o propósito de aqui deixar dois documentos que tornam claro a "elevação" moral que é a caridade - no sentido de esmola. Pois, infelizmente, é certo que vai haver cada vez mais degradantes momentos em que gentes de "boas famílias" mostram a sua pia filantropia.
O primeiro dos documentos é uma música de José Barata-Moura. O segundo é de António Lobo Antunes. São duas excelentes obras de arte, com a postura que um artista deve ter: ser social e politicamente interventivo.
1º - "Vamos brincar à caridadezinha" - José Barata-Moura:
O google homenageia hoje Bram Stoker. Escritor irlandês conhecido por ter escrito o Drácula, obra que perdura como sendo a quinta essência da literatura sobre vampiros - assim diz o Wikipédia sobre quintas essências.
Nunca tive curiosidade, por preconceito meu, literatura relacionada com vampiros, mas agora que o Drácula me tem feito companhia nos transportes públicos e às vezes antes de adormecer, mudei completamente a minha opinião sobre ele, e considero-o uma excelente companhia. É verdade que ele me faz às vezes ficar um bocado ansioso como se algo de mau me pudesse acontecer, ou demasiado interessado em observar as suas idiossincrasias que quase perco o barco ou o autocarro. Contudo, conhecer Drácula foi uma das melhores coisas que me aconteceu ultimamente. Tem sido um amigo. Gosto muito do Drácula.
mais tarde - Estou a sentir-me um tanto temulento, taciturno, sorumbático, macambúzio, carrancudo não, mas definitivamente noitibó, por isso vou terminar de escrever. O Drácula está sob a minha cama me esperando.
O puto tem 13 anos. Trazia uma uma t-shirt com a cara do Obama e perguntava-me ele, incrédulo, como podia eu ser comunista. As minhas respostas eram seguidas de um silêncio entre o grupo. Pergunta após pergunta, resposta após resposta, fiz então eu uma questão: porque trazes uma t-shirt com a cara de um criminoso de guerra por deter e julgar? A surpresa no grupo foi geral, mas o burburinho terminou rapidamente em silêncio. Ali as pessoas conheciam as malfeitorias dos EUA pelo mundo, nunca se tinham era apercebido que era apropriado o termo de criminoso de guerra.
Obama teve cerca de menos de 11 milhões de votos em relação à sua primeira eleição. O ambiente em volta da sua candidatura é bastante menos entusiasta e só pode deteriorar-se: a sua primeira eleição foi construída sob uma enorme ilusão, e hoje, não passa de um "mal menor".
A Grande Depressão terminou apenas com a Segunda Grande Guerra. Uma destruição de proporções bíblicas, absolutamente inimaginável.
Ultimamente, quando penso na guerra, vejo-me a imaginar a quantidade de
destruição necessária para "resolver" a crise económica em que vivemos. Há uma solução, mas que Júpiter nos livre que fale disso agora: revolução e isso... enfim!
A ligação entre uma depressão económica como a que vivemos e a guerra não é de difícil explicação. Contudo, a maioria dos leitores deste blog ou já sabem como as duas coisas estão ligadas, ou estão a borrifar-se para explicações. A estes últimos faço um apelo: rezem para que lhes caia do céu a compreensão do conceito «baixa tendencial da taxa de lucro»*. Acredito, muito desonestamente, que isto vai lá com apelos.
A guerra nisto não muda: será sempre uma inimaginável tragédia.
Escusado pensar após um filme que se pode compreender como é uma guerra. «Pois é, é assim, a guerra!!» dizem-me baixinho no meio das Linhas de Wellington. Sorri incomodado, mas censurei-me, não quis incomodar explicando que aquilo era um eufemismo da guerra. Talentosamente o realizador soube como evitar chocar grosseiramente o espectador perante o esborrachar de um bebé contra uma parede. Napoleão não apareceu.
É um bom filme, ao contrário de todos os outros onde Soraia Chaves também faz de puta. Aqui, novamente, a prostituição foi tom eufemístico. Isto não é uma crítica negativa, é realmente um bom filme, ou por outras palavras: eu gostei.
Devo estar numa fase de filmes de guerra (ou com guerra). E de eufemismos. Hoje, foi a vez de ver o filme Atonement, de 2007, fabricado pelo Império Britânico*, onde a meio de uma bela história de amor, surge a guerra, onde se tenta mostrar, sem ferir o espectador, que a guerra é... a guerra. Hitler não apareceu.
vai constipar-se
É um excelente filme. Destacou-se, para mim, a bem elaborada e original história, a cor, e a actriz. Há um cuidado com a fotografia extraordinário, não só no sentido de bons planos, mas sobretudo como era dinâmica e expressiva a mudança das cores e luz. Quanto ao destaque que fiz à actriz, não interessa agora o caso, até porque teria de recorrer a muito boa adjectivação para não cair eu dentro de um eufemismo e afogar-me.
Não quero que pensei que estou a ser irónico quando digo que ambos os filmes tentam mostrar que a guerra é a guerra. Eles tentam, mas contudo, dentro dos limites daquilo que a maioria consegue suportar. Aborrece-me é que alguém pense que aquilo é uma boa representação de como é a guerra. Algo que penso ser inimaginável.
É também curioso expressões como "o senhor é muito humano", significando que o sujeito é um amor de gente. Que será então as violações, as torturas, as matanças, a terra queimada, senão também muito humano?
Talvez me esteja a preparar para apreciar essa humanidade, e ver um filme que me parece tentar mais honestamente retratar a guerra - será?! -, chama-se Idi i smotri (Come and See). Só pelo trailer, decidi que antes de o visionar irei comer só uma saladinha para evitar ficar muito nauseado.
Não se admirem se, quando voltar aqui a escrever, esteja com sintomas de stress pós-traumático. Agora, vou ali sonhar que me afogo no eufemismo daquela tal actriz. Boa noite! - que nenhum cogumelo a transforme a noite em dia e me acorde. (adenda das 11:30: a actriz não apareceu!)
*a autora do livro foi premiada com uma coisa com o nome Commander of the Order of British Empire!!
Bonjour! Confesso que durante quase todo o filme só pensava "mas por que estou eu ainda a ver esta merda?!", mas vi-o até ao fim. Sem me despertar grande emoção lá fui aturando o pedante idealismo político do personagem masculino, e a frivolidade egocêntrica da personagem feminina. O filme não parecia deixar-me grandes marcas, contudo, pensando na possibilidade de escrever aqui um post, pus-me a pensar, e, enquanto preparava algo para comer, olhava com olhar estúpido para um barulho cuja causa não conseguia detectar, ou na casa-de-banho a apreciar a vida, dei por mim a concluir que, afinal, o filme era interessante! Ele apresenta por intermédio de quotidianas acções do dia-a-dia um conjunto largo de temas importantes da vida: é uma obra de filosofia. E é-o de forma mais profunda do que me apercebi durante o seu visionamento, e, em boa verdade, só depois, quando estava sentado na cerâmica da salle de bain é que soltei a criatividade e cheguei às mais interessantes interpretações do filme.
Muito gostaria aqui de expor acerca do idealismo político do Paul, e da frivolidade da Madeleine. Mas, ficar-me-ei por revelar que senti (o que não significa que o seja realmente) que o filme é datado, e que vivemos tempos diferentes. Ao meu pensamento estava constantemente a ideia de que aquela geração vivia uma fase de emancipação, enquanto hoje vivemos numa fase de cada vez maior opressão, rumando até ao fascismo.