quinta-feira, 8 de março de 2012

Colômbia: mais de 250 000 foram mortos desde os 80s

Se tivermos em conta os que os média dizem, sem filtros, sem desmontar a mensagem, pensaríamos que na Colômbia é assim: as FARC são os maus, e o governo colombiano com as ajuda dos EUA são os bons que travam uma guerra contra a droga.

Lembro, numa conversa com uma amiga, dizer que a guerrilha não surgiu do acaso, e que houve acontecimentos que promoveram a necessidade para o seu surgimento, e que... Ao que fui interrompido com um

- Mas o mal não justifica o mal.

Perante tal argumento, o meu cérebro teve um curto-circuito, e calei-me. Calei-me, mas temporariamente, após fazer reset, retorqui:

- Se alguém estivesse prestes a matar-te a tiro: ficarias sem agir, ou preferias salvares-te ao disparares antes de ser morta?

Ela percebeu onde queria chegar. Mas, desconhecendo o que terá provocado a origem das FARC e a sua manutenção até hoje, ficou confusa. O ponto de vista moralista já não lhe bastava para tomar posição sobre o assunto.

Basta saber o que aconteceu na década de 80 com o partido União Patriótica, criado como proposta política democrática pelas FARC, num processo de paz, e que chegou a obter a mais alta votação na história dos partidos de esquerda colombianos, com 5 senadores, 14 deputados, 351 vereadores e 23 prefeitos [1], para saber que o assunto é bem delicado.

Dois candidatos presidenciais, 7 congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos, no total, 3.000 integrantes da UP foram assassinados [2] por agentes do estado colombiano e grupos paramilitares ligados a narcotraficantes. Alguns sobreviventes do extermínio abandonaram o país. No dia 11 de Novembro de 1988, quarenta militantes foram publicamente executados na praça central do município de Segóvia, no distrito de Antioquia. [3].

Mas, a resposta mais exótica que tive, à pergunta acima, foi de alguém que dizia deixar-se nas mãos de Deus. Que podia morrer, mas que matar, jamais. Um milagre surgiria e... Acho que a resposta envolvia anjos, e exemplos de casos semelhantes em que algo fantástico acontecera... (!)

Ter moral é uma coisa, ser-se moralista é outra. Não matar, é um excelente Mandamento, mas ter o valor como absoluto não é boa ideia, é não perceber que tudo está sobre influências contraditórias, e que matar pode ser em determinados casos o melhor a fazer. Atenção: nunca matei, nem pretendo matar ninguém; nem bichinhos mato.

Agora sabe-se pelo Wikileaks que os assassinatos desde a década de 80 ascendem os 250 000. Mortos pelo Estado colombiano e paramilitares, apoiados pelos EUA, e com o conhecimento dos governos destes [ler aqui]. Irão os EUA fazer um embargo económico à Colômbia? Pois.

Quem em Portugal ficar surpreendido por estas horrorosas notícias, é porque tem estado restringido a obtenção de informação pelos média dos grandes grupos económicos. Dos médias nacionais, só pelo Avante! é que li notícias sobre os recentes achados de mais valas comuns na Colômbia. [aqui e aqui]

Levantar, directa ou indirectamente, o 5º Mandamento para criticar ou abdicar de apoiar quem luta pela via das armas é uma argumentação... pateta. Cada caso é um caso e, por vezes, abdicar das armas pode ser sinónimo de suicídio. Ficar passivo, ou escolher a via das rezas, perante um genocídio e perseguição política é acabar por estar do lado dos genocidas.

O assunto é complexo, e percebo que se hesite por se tomar parte por um dos lados do conflito armado. Mas a minha moral diz que se deve aprofundar todos os assuntos, não ceder a conclusões simplistas, moralistas, e ao aprofundar este assunto será que nos devemos declarar neutros?

Não há nos telegramas da wikileaks nenhuma referencia ao número de milagres ocorridos. Nisto como no resto, não há milagres, o melhor será dar férias aos joelhos e agir.

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