sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher, por Joana Metrass

Joana Metrass (actriz)
Isto é uma página sobre o meu trabalho é certo, mas o meu trabalho faz parte de quem eu sou e aquilo em que acredito faz-me ser quem sou: 

Dia da Mulher

Oiço vários homens, perante este dia, dizerem algo como “porque não há também um dia do homem”? “que sentido faz haver ainda, hoje em dia, um dia da mulher”? 

Se quisermos ignorar as batalhas passadas e conquistas que merecem ser lembradas e celebradas, pelo menos pensemos nas batalhas ainda por lutar. Não faz sentido nos dias e hoje?

Nos “dias de hoje” existem países que tornaram legal a violação dentro do casamento, existem países que condenam à morte mulheres por adultério, países que consideram as mulheres culpadas das suas próprias violações, países que consideram as mulheres como propriedade do pai, depois do marido e depois ainda de toda a família do marido, países onde as mulheres ainda não podem votar…

Neste nosso Ocidente tão evoluído é tudo tão menos óbvio: “apenas” lutamos, por exemplo: contra a violência domestica (da qual foram vitimas entre 35 e 40 mulheres no ano de 2012 em Portugal, número que está a aumentar e não a diminuir, por oposição ao número de queixas, visto que na maioria dos casos não acontece nada ao agressor a não ser tornar-se mais agressivo após saber da queixa, o medo de fazer queixa aumentou…também as mortes…), lutamos contra o machismo socialmente aceite, escondido em frases como “eu até ajudo em casa” ou mesmo com a falta de informação que faz grande parte das mulheres dizer orgulhosamente “eu não sou feminista” (julgado que o feminismo é o oposto do machismo:as feministas não acham que são melhores que os homens, nem que estes são seres inferiores) mas que vão votar, que trabalham, que vão a tribunal pela guarda dos filhos etc etc etc, conquistas das lutas dessas feministas, esses seres que são “ umas lésbicas ou solteironas, mal amadas, destrambelhadas que queimam sutiãs”.

Só o simples facto de esta ainda ser a ideia geral do que é uma feminista prova que não vivemos num mundo igual, prova que vivemos num mundo de homens em que as mulheres lutam todos os dias para ser vistas como iguais, porque os homens quando lutam são Heróis, as mulheres “umas mal-amadas” ou tantas outras coisas.

Porque é que não existe um dia do homem? Sim, há tantos homens pelo mundo vitimas de tantas injustiças mas não existe nenhum sitio no mundo onde um humano seja descriminado, tenha menos direitos ou menos liberdade, seja portanto vitima dessas injustiças unicamente por ter nascido do sexo masculino.

Hoje em dia a luta das mulheres sofre por até a grande maioria das mulheres achar que já não existe nada por que lutar. A existência do dia da Mulher é essencial para relembrar toda a igualdade e respeito pela diferença que falta conquistar por esse mundo fora.

Este dia é não só por todas as que lutaram e que nos permitiram vivermos como vivemos hoje mas principalmente por todas as que ainda lutam e ainda sofrem. 

Desejava que todas as mulheres do mundo tivessem um bom dia da mulher, infelizmente sei que assim não o é. Mas pelo menos hoje, que todos nos lembremos dessas mulheres. 

E por fim, obrigada a todas as mulheres que me deram os direitos que tenho hoje, e obrigada a todas mulheres com quem cresci e a todas as que tanto admiro.
________________________
Post do ano passado aqui no Três Parágrafos

1 comentário:

Rocha disse...

É precisamente pela total ausência ou branqueamento da realidade da sociedade de classes em que vivem tanto homens como mulheres neste discurso como em muitos outros que eu digo que infelizmente o feminismo continua ser com raras excepções uma ideologia burguesa e reaccionária.