Todos sabiam. O Tó Zé "Merceeiro" dava valentes sovas na mulher. Distribuía o seu "amor" à paulada. E, uma vez, usou a carrinha. Ele não era bonito, mas era simpático para a freguesia. Certo dia, a mulher contraiu o divórcio mesmo sem receita do médico. Dizem que se enrolou com o pároco. Tó Zé - o merceeiro - virou, na comunidade, de besta a coitadinho. Um ano depois pendurou-se pelo pescoço com uma corda ao estendal da roupa e ficou metamorfoseado em pêndulo. Nesse dia, do lado oposto da rua, o Café Central encheu. Todos o testemunharam: a corda matou-o!
Mas o estranho veio depois. Morto, a vizinhança não se permitia a lembrar o talento com que Tó Zé "Merceeiro" transformou com a carrinha a mulher em um projéctil. Já só se podiam lembrar que o merceeiro vendia mais barato. Era um bom homem - repetiam. O divórcio matou-o - escreveram no jornal da freguesia.
Mas o estranho veio depois. Morto, a vizinhança não se permitia a lembrar o talento com que Tó Zé "Merceeiro" transformou com a carrinha a mulher em um projéctil. Já só se podiam lembrar que o merceeiro vendia mais barato. Era um bom homem - repetiam. O divórcio matou-o - escreveram no jornal da freguesia.
No funeral de Tó Zé apareceram os amigos dos copos, as beatas que não conseguiram a atenção desejada do pároco, a ex-mulher para espanto de muitos, e um desconhecido. Por impertinência de quem se julga importante, o desconhecido quis dizer umas palavras de homenagem, subiu a um escadote e disse que o defunto foi "uma personalidade que teve um percurso cívico extraordinário" e é "uma perda muito grande para Portugal". Bateram palmas!, excepto a ex-mulher. Mentira! - gritou ela -, acrescentou que o desconhecido não conhecia sequer o morto, que se teria enganado, e ido mentir para o funeral errado. Os outros censuravam-na, alegando que assim desrespeitava o morto.