quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A música é política

"Não existe neutralidade na canção. Tenho pensado muito nisso por causa dessa treta de nos chamarem cantores de intervenção. Chamarem-nos cantores de intervenção é uma forma de desresponsabilizar os outros que não o são. Parece que, normal é uma pessoa não intervir, não se meter “nessas coisas”. Quando qualquer ocupação do espaço social – em cima dum palco, num disco, num tempo de antena (…) – é relevante do ponto de vista da nossa relação com a comunidade. Portando, não há neutralidade nisso. Se eu ficar a cantar baboseiras, parvoíces, ou coisas completamente anódinas que contribuam para estupidificar as pessoas, etc, eu estou a intervir, sou activo na mesma, estou a dizer: «É pá, ficas quietinho, não faças nada. Tu és um escravo. Não levantes a garimpa, continua isso, nasces, morres, e continua o processo. Não faças nada.» Outros, seja a falar de amor, seja a falar das relações sociais, seja a falar de poesia – das grandes coisas da alma humana -, exprimem-se, entregam-se, questionam-se. Isso, quando passam para si e para os outros… [tem um efeito]". [*]

José Mário Branco
Lembrei-me destas palavras após de ter visto várias reportagens fazendo, hoje nos média, observações que demonstravam o desejo de separar o José Afonso músico e o José Afonso político. Não são separáveis, e a arte produzida por ele são obras maiores muito por isso. Se ele tivesse optado pela «mulher gorda a mim não me convém» talvez nem a pandeireta tivesse resistido após 25 anos. A arte deve ser politizada, e os artistas que se furtam a politizar a sua arte estão a descurar na sua cidadania, ainda por mais nos momentos difíceis que vivemos: não é por acaso que se sente o desejo de novos Zecas...


Como separar o músico do político com obras destas?!
Impossível, nem que fosse apenas porque somos, querendo ou não, sempre políticos.

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